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Um sono revelador

Numa de suas constantes tentativas de me ensinar fui tomado pelas mãos, em meu sono, por Yogananda que sem muitas palavras me fez levitar e sair de minha casa pelo telhado.

Poucos segundos haviam se passado quando percebi que minha casa era somente um telhado, um pequeno retângulo marrom e, em outros poucos segundos, somente mais um telhado e conforme continuamos subindo era apenas um grão de areia localizado em meu bairro. Quão grande não foi minha surpresa quando percebi que a enorme empresa em que trabalho é uma pedrinha inserida no centro da cidade e que o circuito que eu demorava uma hora em minhas caminhadas matinais era não mais que um minúsculo graveto.

Continuamos em nossa ascensão quando passamos no meio de algumas nuvens e perdemos a capacidade de ver outra cor a não ser o branco. Passadas as nuvens frias, me dou conta como meu estado, meu país e meu continente foram tornando-se miniaturas, que meu telhado já era imperceptível e que minha empresa me causava a impressão de não existir. Percebo como as 5, 8 horas de viagem de avião que preciso para me deslocar a outros países podem ser cobertas por meu dedo quando começo a visualizar a curvatura da terra. Realmente “a Terra é redonda”.

Na sequencia de nossa subida começo a ver outros continentes, o azul dos mares, e finalmente a Terra como um todo. A única segurança que tinha de não cair era a mão de meu querido mestre, em quem depositei, já há muitos anos a minha total confiança. Agora sim, podia ver todo o planeta, com todos seus contornos, suas nuances e seus detalhes inumanos, um espetáculo que desejo que todos tenham a oportunidade de apreciar.

Foi quando perguntei:

– Mestre, onde estamos indo?

– Sairemos da galáxia. Respondeu ele, fitando-me com o sorriso que seus olhos costumam ter quando me olham.

Não pude deixar de me emocionar, uma sensação entre o assustar e o surpreender e quando me viro, percebo o imenso e majestoso Sol, numa exibição de gala. Dirijo-lhe meu olhar quando percebo três minúsculos pontos:

– Esses são a Lua, Mercúrio e Vênus, me informa Yogananda.

Por não poder fitar tanto tempo o Sol, viro-me para o outro lado, quando percebo outros pontos que deduzi serem os outros planetas do sistema solar e um me encantou, pelo peculiar anel amarelo que circundava seu equador: Saturno e suas muitas luas. Procurei por Titã, sua maior lua, e o único local do sistema solar, exceto a Terra que pode ser habitado por vida como a nossa, por possuir corpos líquidos estáveis e atmosfera densa.

Foi quando decido olhar para trás e num relance percebo que a Terra tinha quase sumido, era apenas um pontinho perdido na imensidão do universo, meu planeta, minha casa. Aquele pontinho era onde estavam todas as pessoas que eu amava, que eu admirava, que eu conhecia, que eu desprezava. Onde adquiri todos os conhecimentos e onde tinha tido todas as experiências que tinha vivido e que formavam minha personalidade e minha forma de interpretar a realidade. Ali naquela miniatura estavam todos os reis, todos os camponeses, todos os intelectuais e todos os ignorantes que eu conhecia, todos os lugares, todos os tiranos, todos os democratas, os santos, as religiões que eu conheci. E então percebi a mensagem que meu mestre queria me passar…

Lutamos toda a vida, trabalhamos, brigamos, enganamos, roubamos, matamos para conquistar um pedaço microscópico de um planeta minúsculo num universo infinito. Somos menos que um grão de areia, somos uma parte infinitesimal e justamente por esse motivo não devemos pensar que somos mais do que realmente somos, ou seja, nada. Entendi que somente a humildade nos liberta do ciclo de nascimento e morte e que a é a única ferramenta para se chegar ao nosso maior objetivo neste planeta, que é aprender a amar.

E por isso devemos ser humildes, para conseguir entender as leis universais, para poder contemplar a verdade e se libertar-nos de Samsara. Como a experiência ensina mais que as palavras!

Pedi ao mestre para voltar ao meu cantinho, tudo aquilo era gigante demais para a minha minúscula consciência.

 

Autor
Meu nome é Alvaro Concha, tenho 4 filhos, moro em Porto União, no estado de Santa Catarina, no sul do Brasil.

 

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