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A mulher de preto

Todas as férias ou meus primos vinham à nossa casa ou íamos à casa deles, que moravam numa cidadezinha do interior paulista, mais especificamente na zona rural, bem no meio de uma fazenda de plantação de Pinus. O lugar era raramente lindo, com um belo jardim repleto de flores na frente da casa e do outro lado da estradinha que ligava as casas dos gerentes, que moravam a uns 100 metros um do outro, um grande lago. Mas uma das características principais da casa era que estava totalmente isolada pois entre uma casa e outra haviam várias árvores dando a impressão do total isolamento.

A floresta de pinus era gigante, ao menos para nós que éramos crianças e costumávamos brincar no meio das enormes árvores com a brincadeira que a imaginação permitisse. Éramos 2 irmãos, dois meninos e meus primos, que também eram dois irmãos, e por isso as brincadeiras eram infindáveis, pois formávamos um time relativamente grande. E era o que fazíamos, brincávamos durante todo o dia sem parar no meio daquela, para nós, imensa floresta.

A festa ficava completa quando nossos avós iam para lá, pois os dois gostavam de brincar conosco. Meu avô gostava de caçar borboletas e saía, às tardes, quando não chovia, com sua rede de mão, seu chapéu e sua vontade de explorar os diferentes lugares que a floresta proporcionava. Eram muitos tipos de borboletas, as azuis, as laranjas, as 88, as amarelas, brancas e todas elas as caçadas eram pregadas com alfinete numa chapa de isopor e expostas para as pessoas apreciarem nas paredes de sua casa. Ficávamos tristes quando espetávamos as borboletas, mas o resultado final era interessante, pois os quadros ficavam muito bonitos.

Meu avô era um homem forte, alto, encorpado e passava a nós netos a sensação de dureza, firmeza e robustez. Sempre foi muito bravo com suas duas filhas, mas conosco, os netos, era gentil, compreensivo, carinhoso e companheiro. Mas entre as características que ele nos passava era a de que ele não tinha medo de ninguém e de nada.

Numa bela tarde de sol, saímos todos, os primos, mães e avó para a cidade, provavelmente tomar um sorvete e deixamos nosso avô caçando borboletas.

Como o dia estava ensolarado e estávamos todos nos divertindo muito, ficamos por mais de 5 horas na cidade e saímos no final da tarde da cidade, até chegar à casa nos demoraríamos uma meia hora. Chegando lá, aproximadamente às 19:30, quando já era noite. Quando chegamos vimos nosso avô sentado sozinho na escadinha na frente da casa, olhando ao infinito e aparentemente acuado de medo, nunca o havíamos visto assim…

– Oi Talo – perguntei. O que aconteceu? Por que está sozinho ai no escuro?

– Meu filho, estou assustado, pois há uma mulher vestida de preto dentro da casa e ela não quer sair de lá. Vi ela a umas duas horas atrás e ela ainda está lá dentro… Na verdade, acho que não é uma mulher, ele afirmou olhando para a minha avó.

 

– Como assim? É uma mulher ou não?

– Eu vi uma mulher vestida inteiramente de preto lá dentro, alta, da minha altura, não consegui ver seu rosto, usava um chapéu, também preto, mas ela estava flutuando! Olha os pelos de meu braço como se arrepiam de te contar… Eu acho que é um espírito…

Todos ficamos arrepiados e com medo de entrar em casa, mas quando meu tio chegou do trabalho, o que ocorreu logo depois, e ao escutar a história não hesitou e foi entrando na casa. Todos o seguimos, um mais assustado que o outro…

Não vimos nada apesar de procurarmos em todo e cada um dos cantos da casa. Nunca soubemos o que era, mas também nunca mais vimos aquela mulher vestida de preto.

 

Autor
Meu nome é Alvaro Concha, tenho 4 filhos, moro em Porto União, no interior de Santa Catarina, no Brasil.

 

A mulher de preto
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