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Entre a Virgem Maria e eu

Era um lindo dia de sol, frio de inverno e nossa casa estava completamente arrumada e limpa, pois minha mãe e minha irmã mais velha (já com 18 anos) já tinham dado conta dos serviços caseiros. Vivíamos numa casinha simples de madeira, perto de Coronel Bicaco, uma cidadezinha do interior gaúcho, que hoje conta com cerca de 7.500 habitantes.

Como era de costume, após todos os deveres da casa realizados, fomos passear com minha irmã e seu marido no meio do mato. Mas, desta vez o passeio era diferente, pois após caminharmos por 15 minutos no meio de uma mata fechada, carreirinho fino, primeiro paramos para observar uma fileira de formiguinhas que incessantemente passavam e formavam elas mesmo seu carreiro. Depois, observamos uma borboleta grande e azul, que com o sol tinha sua cor alterada para quase uma holografia que saltava aos olhos. Eu, como criança sem compromissos, minha irmã e seu marido fomos seguindo-a despreocupadamente até que chegamos a uma colina totalmente sem árvores, porém coberta por um lindo gramado, em sua parte mais alta, umas vacas pastando e no “pé” da colina uma pequena casa, também de madeira, muito simples, porém menor que a nossa soltava fumaça de sua chaminé. Ao fundo o lindo céu azul anunciava que talvez aquela noite viria uma geada.

Eu,sem saber, tinha seguido minha irmã até lá porque ela estava muito doente e precisava de uma “garrafada[1]” para se curar e por isso me disse:

– Venha, vamos falar com o curandor[2]! Disse minha irmã, puxando-me pelo braço.

Quando chegamos na casa do curandor me assustei com a pobreza do lugar, pois o chão era de terra, o teto de capim e o banco em que nos sentamos do lado de fora balançava quando espirrei, talvez pelo pó. Foi um momento diferente para mim, pois nunca tinha me defrontado com tamanha pobreza, que naquele momento me feriu os olhos, sem entender o que se passava.

Ao entrar na casa, minha irmã pede a garrafada e o curandor, um senhor idoso, barba comprida e branca, informa que demorará um tempo, e que por favor, espere do lado de fora da casa. Mas antes que ela saísse ele benzeu o casal.

Foi quando ele me viu e disse para minha irmã:

– E a menina ali não vai querer se benzer?

Neguei, pois aos meus 6 anos de idade, tudo ali era assustador, tudo era novidade e por isso fiquei retraída. Porém minha irmã, contradizendo-me, tomou-me pela mão e me levou até o curandor que pediu para que eles saíssem e fechou a porta. Quando a porta se fechou, senti uma energia diferente e começou a soprar um vento muito forte só dentro da casa, soprava tão forte que algumas roupas penduradas se moviam tão violentamente que me assustei ainda mais. Porém o vento, me lembro de haver notado, só soprava dentro da casa, fora não. Ao buscar de onde vinha aquele vento, olho para o teto da casa que se abre e do buraco descem dois anjos, brancos, gordinhos, com as pernas dobradas em sinal de oração e suas asinhas batendo.

 

Entre a virgem e eu

Foi quando aparece uma luz forte e no meio dela a imagem de uma mulher, foi quando o vento cessa.

– Não tenha medo, me afirma o curandor, é a Virgem que sempre vem conversar comigo! Mas é a primeira vez que ela vem conversar comigo e com outra pessoa.

Ao terminar essa explicação olho para a Virgem que toca meu cabelo e me diz:

– Não tenha medo, sou a Virgem Maria e sua missão aqui na Terra é muito especial, você vai ajudar muita gente, mas não corte o teu cabelo!

Como eu era muito criança, não entendi nada e reagi muito serenamente a tudo aquilo. Foi quando o vento volta a soprar fortemente na casa e a Virgem com os dois anjinhos vão embora, o teto se fecha e o vento se acaba.

Julgo, que naquele dia a Virgem me deu o maravilhoso dom de ajudar as pessoas através da vidência.

[1]Garrafada – medicamento líquido, inserido numa garrafa, normalmente por um curandeiro. Termo utilizado antigamente no sul do Brasil.

[2]Curandor = curandeiro. Termo utilizado no sul do Brasil.

 

Autor
Sou a Eloisia Cardoso Lemos, tenho 4 filhos e moro em Canoinhas em Santa Catarina, no sul do Brasil.

 

Entre a Virgem Maria e eu
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