Sempre nos encontrávamos na rua, não sei se todos os dias, mas muito constantemente, tanto é que finalmente nos cumprimentávamos, sempre cordial e formalmente.

Era tão familiar ver-nos, que na noite que lhe abri a porta de meu restaurante nasceu espontaneamente a necessidade de um abraço para cumprimentar-nos, foi um longo, carinhoso e inesquecível primeiro abraço. Quando voltamos à realidade e nos olhamos de frente, os dois acabamos nos perguntando:

– Qual seu nome? Sei que te conheço, mas não sei teu nome.

Rimos daquela situação pois seus amigos, que ali estavam com ele, não entendiam como dois estranhos podiam se abraçar daquela maneira.

Foi uma noite muito agradável, cheia de piadas, de conversas, confissões, paqueras e inclusive de uma jogada de Tarô para ver seu futuro…

Ele me narrou cada uma das vezes que tinha me visto e como lhe atraía aquela mulher que quando chovia caminhava tranquila e serena, enquanto o resto das pessoas corria desenfreadamente buscando abrigo.

Eu sabia, naquela noite, que havia conhecido o amor de minha vida. Quando lhe li as cartas, disse-lhe que em sua vida existiriam duas mulheres de cabelo negro que sempre dividiriam a sua vida… rimos outra vez, pois naquele momento concluímos que eram as suas filhas.

Ele voltou ao restaurante por várias noites, até que começamos a sair e um mês depois descobri que ele tinha noiva, que ela estava grávida e que eu também estava grávida de meu ex-marido. Apesar de tudo, continuamos vendo-nos e mantivemos essa linda amizade por quase dois anos até que finalmente decidimos ficar juntos, definitivamente.

Mas, como as cartas haviam previsto, haviam duas mulheres em sua vida…

Foram lindos anos, cheios de amor, cumplicidade, amizade e entrega mútua. Passaram-se 18 anos, mas esta história não tem um final feliz, pois assim como um dia eu o recebi com aquele longo e forte abraço sem saber quem ele era, ele se foi de minha vida como mais um desconhecido.