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No ninho da sabedoria

Num mundo muito distante, havia um povoado muito diferente de todos os outros que já existiram. Zagolônia era um lugar feliz, cheio de verde e de flores, cogumelos que serviam de bancos, vermelhos e brancos, gigantes que pareciam ser pintados à mão. Ruas estreitas de paralelepípedos, casas feitas com pedra largas e escuras, o sol no céu com muitas borboletas e pássaros. E muito mais podemos acrescentar sobre esse paraíso, uma energia positiva indescritível, uma atmosfera com muita vida e luz, coisas especiais aconteciam ali, milagres e mágicas. Os zagolonêses tinham poderes especiais, um carisma inigualável, eram solidários, unidos e embora pequenos de estaturas, para não dizer anões, eram muito fortes, pois segundo eles a força não estava na estatura e, sim, na capacidade do coração em acreditar que eram serem infinitamente grandes e fortes.

Em uma manhã de domingo, o sol brilhava alto, todos estavam reunidos, como de costume na igreja para a missa de domingo, mas ninguém poderia imaginar o que estava por vir. Ao término da missa, todo o ritual se repetia, o coral cantando, os sinos tocando forte, quando a grande porta de madeira da igreja se abriu, um vento muito forte a invadiu, o céu escureceu e, uma tempestade enorme começou, a maior tempestade já vista em Zagolônia e, o dia lindo, virou noite.

Todos correram desesperados, apavorados, e em busca de proteção se trancaram em suas casas. O vendaval piorou, muitas árvores arrancadas, casas destelhadas. Após duas longas horas, a chuva cessou, o vento desapareceu, mas o céu não clareou, e a noite no dia se instalou, marcando a história de Zagolônia para sempre.

O sino sinalizando uma emergência começou a tocar e aos poucos sem entender o que estava acontecendo, os anões saíram de suas casas e se reuniram em frente à casa do mestre dos anões, muitas indagações surgiram, afinal ninguém ali nunca havia vivido nada nem parecido com ocorrido. Num discurso improvisado, o mestre pediu calma e explicou-lhes que estavam vivendo uma profecia, que ele imaginara que não iria acontecer, pois há milhares de anos atrás o povo anão cultuava o Deus Quavaar, e o deixaram de cultuar quando descobriram que este Deus havia abandonado seu povo por uma briga com os seus antepassados. Enfurecido o Deus Quavaar jurou vingar-se trazendo a escuridão para luz, e saqueando a harmonia e a felicidade daquele povo. E a profecia só se quebraria se todos eles, sem nenhuma exceção fossem capazes de, a partir da meia noite daquele dia, viverem completamente felizes e em harmonia sem a luz do dia por pelo menos dois outonos, dois invernos, duas primaveras e dois verões. Se eles conseguissem conseguiriam a luz novamente, neste caso o sol, ou, caso contrário, estariam condenados a viver eternamente na escuridão.

Com a noticia a atmosfera transformou-se, e o silêncio invadiu o ambiente, corações se partiram, lágrimas, dor e insegurança afloravam nos pequenos corações, aquele povo que fora sempre tão feliz conheceu naquele instante o poder da injustiça e da crueldade. Então, uma voz interna pode-se ouvir por todos os zagoloneses:

– Como faremos para que todos, exatamente todos consigamos estar sempre em harmonia e felizes sem a luz do sol? Como faremos para que em nenhum momento sintamos tristeza por falta do dia? Como faremos com os mais jovens? E com os mais velhos?

O desespero e a desordem tomaram conta do local, discussões, lágrimas, discórdias e raiva. Assim se manteve por algumas horas,até que o mestre Zacarias reuniu seu povo e com um grito afirmou:

– BASTA!! Nunca fomos desunidos! Nunca fomos desorganizados! Nunca fomos fracos! Nunca seremos infelizes! Somos um povo batalhador, com história, tradição, com valores morais e princípios sólidos bastante fortes e esclarecidos, e nada é impossível para corações cheio de vontade, portanto somos capazes de tudo!!! E não será esta profecia que nos desunirá e acabará com o amor que à gerações nos une!!! Somos fortes, muito fortes!! E a partir de hoje seremos mais fortes do que os mais fortes, continuaremos todos felizes!

o ninho da felicidade

 

Todo o povoado se comoveu com o discurso do mestre Zacarias, todas as tarefas foram repensadas e reorganizadas, escalas de monitores foram elaboradas para motivar o povo, encontros diários nas refeições com toda comunidade, e assim se passaram os dois anos e, aquele povo surpreendentemente conseguia superar o insuperável, conseguiam estar mais próximos do que nunca, mais produtivos do que nunca, mais amigos do que nunca, e conseguiram mostrar não só para o homens, como para os deuses, que amor, a força, a determinação e a união são capazes de vencer tudo e todos.

Após os 730 dias, Zagolônia em festa, honradamente recebeu o sol,e seu povo aprendeu que tudo na vida é uma questão de decisão, que a coragem tem que ser maior que o medo, e que a força tem que ter o tamanho da nossa fé.

Jomara Lemos – Porto União/SC – Brasil

No ninho da sabedoria
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