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Vivendo um furacão

Morei por alguns anos em Miami, uma cidade que me aceitou muito bem e que eu considero como minha segunda casa e os Estados Unidos meu segundo país, pois lá tive e tenho amigos e, também, lá deixei minha mãe morando. Minha mãe gosta muito da cidade, de seu povo e do país. Além disso, tive a oportunidade de estudar e me formar numa universidade de lá, o que me proporcionou conhecimento sobre administração de negócios, que ainda aplico a meu dia-a-dia. A vida nessa cidade é muito boa, e morar lá é prazeroso, pois é uma cidade grande, hoje com quase 400 mil habitantes, mas muito tranquila, um trânsito que flui e com muitos recursos. Além de linda, está localizada nos trópicos o que lhe aufere um clima cálido, o mar está próximo, a incidência solar é muito grande e tem, também, uma possibilidade imensa de formas de lazer, como restaurantes de muitas etnias, museus, praias, esportes, etc…

Claro que nem tudo é felicidade, pois ali passei por um episodio muito impactante de minha vida e que nunca mais poderei me esquecer que foi a passagem do furacão Andrew pela cidade. Ficamos esperando-o na casa de um amigo, com outros 4 num bairro residencial da cidade. Esse bairro tinha muitas casas, mas na quadra que estávamos haviam no máximo 25 casas. Nos reunimos naquela noite e preparamos a casa para o pior, colocando compensados nas portas e nas janelas, algumas bolsas de areia na porta (para enfrentar alguma possível enchente), compramos alimentos e água potável para pelo menos 10 dias e nos reunimos na sala para jantar, conversar tomar um vinho e esperar por Andrew. Naquele então, Andrew era o mais forte furacão da história recente dos Estados Unidos, pois quando ele chegou às Bahamas era considerado um furacão de grau 5 (o mais elevado) e seus ventos eram de mais de 278 km/hora.

Para mim, que nunca tinha passado por algo parecido, era uma festa, uma novidade, mas quando aquele furacão começou a se aproximar, eu não podia acreditar que era algo tão forte. Comecei a me assustar quando mesmo antes de Andrew chegar escuto o rugido muito forte de um leão, pensei que ele tivesse escapado do zoológico, mas esse é o barulho que se escuta quando passa um furacão e esse tremendo ruído permaneceu por aterrorizantes 6 horas seguidas.

Quando o furacão chegou a Miami e à nossa casa a impressão que tive era que íamos morrer, pois os ventos balançavam toda a casa… nesse mesmo instante escuto que um carro dispara o alarme, mas a casa continua mexendo e fazendo um ruído aterrorizador, que me mostra que aquilo realmente não seria uma festa, pois além do barulho aterrorizante temíamos que o teto da casa saísse voando e ficássemos com as cabeças desprotegidas.

 

um-furacão

Felizmente, umas duas horas depois, o vento vai, mas o rugido de leão continua, e o alarme do carro também, quando penso:

Porque o dono desse carro não desativa o alarme, como existe gente irresponsável.

Mas, o pior ainda não tinha passado, fomos dormir e quando acordamos, mesmo antes do café da manhã, todos nós, curiosos pelo que havia ocorrido na vizinhança, saímos à rua. Abrimos a porta e percebemos que a água estava quase no limite da altura dos sacos de areia que tínhamos colocado na porta, mais uns 10 centímetros e a agua invade nossa casa. Mas praticamente todas as casas que não colocaram sacos de areia estavam inundadas e entre todas as 25 casas da quadra, somente a nossa e mais uma ainda tinham teto, todas as outras estavam destelhadas…

Além disso, vimos como inúmeros postes estavam caídos dificultando a passagem dos carros, mas o pior de tudo foi ficar sem eletricidade por duas semanas, e sem água, por pelo menos uma semana… uma semana sem água é terrível pois no calor tropical, como é o de Miami, a gente sua muito. Nos primeiros dias tomamos banho no mar, mas ao sair com sal no corpo, nosso problema não se solucionava. Depois de dois dias, por sorte, achamos um cano quebrado que pingava uma gota por segundo e ai tomamos banho todos nós. Demoramos pelo menos uma hora e meia para todos tomarmos banho naquele ritmo que a água caía.

Com comida, água para beber, a casa sem maiores danos, estávamos tranquilos, mas nos surpreendemos quando no dia seguinte fomos tomar banho no mesmo lugar do cano quebrado e nos deparamos com uma multidão de pelo menos 50 pessoas esperando para poder tomar banho, também.

Foram momentos difíceis, de muita privação e muito sofrimento ao sentir um cheiro terrível de carne podre (de peixes, animais mortos e de geladeiras sem eletricidade) por toda a cidade. Outro aspecto que assusta é ver o vandalismo que se desencadeou em várias partes da cidade, com gente saqueando lojas, roubando televisões, fogões, etc. Além disso, me lembro dos iates que saíram da marina para o outro lado da rua, cheguei a ver embarcações de 60 pés sendo arremessadas da marina a 150 metros da praia para as ruas da cidade. Realmente cenas de horror…

A propósito, o carro cujo alarme disparou era o meu, e qual não foi minha surpresa ao ver que um poste saiu voando e quebrou o vidro do motorista, pressionando a buzina até que a bateria se acabasse…

 

Autor
Meu nome é CZG, sou empresário, tenho 5 filhos e moro em Lima, a capital do Peru.

 

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