Suzana morava em uma fazenda, numa pequena cidadezinha no interior do município de Santa Luzia, em Monte Verde. Desde criança morou ali com seus pais e nunca saíra da cidade. Suzana adorava ajudar seus pais na colheita e venda das frutas.
Em uma dessas idas conheceu um jovem chamado Mauricio, muito atraente, com quem logo se casou e teve um filho ao qual deu o nome de Inácio, em homenagem ao seu pai que faleceu antes de conhecer o neto, foram anos difíceis, sua mãe adoecera com a morte de seu pai e a administração da fazenda ficou aos seus cuidados. No entanto, com o seu filho ainda pequeno não conseguia dar conta de todo o serviço sozinha e Maurício não gostava desse tipo de trabalho, por isso saia todos os dias a procura de emprego.
Suzana logo perdeu sua mãe, Joaquina e já não tinha com quem deixar o filho para continuar o serviço na fazenda. Com isso, Maurício trouxe a sua prima Fernanda para cuidar do menino e, assim aos poucos as coisas foram melhorando, Fernanda era muito prestativa e incentivava Suzana a não desanimar e continuar a cuidar do patrimônio da família. Maurício também começou a ficar mais em casa e desistiu de procurar emprego, se interessando mais pelos negócios da fazenda.
Passados alguns anos tudo melhorou e para comemorar a boa colheita resolveram fazer uma viagem a São Paulo. Foi uma semana muito cansativa, Suzana e Maurício corriam contra o tempo para deixar tudo em ordem na fazenda, era apenas uma semana de viajem, mas não poderiam abandonar tudo com os caseiros. E assim o grande dia chegou e saíram de carro rumo a São Paulo, Suzana, Maurício, Inácio e Fernanda que tornou-se uma conselheira e amiga da família. Conforme iam se aproximando enchiam-lhe os olhos com tantas novidades, muitos prédios, carros, pessoas e também uma enorme favela que deixou Suzana apavorada.
Chegaram ao hotel reservado após muitas horas de viajem, todos estavam exaustos e não viam a hora de dormir. Subiram, pediram um lanche rápido e foram dormir ansiosos pelo dia seguinte. Suzana quase não dormiu, ficava agitada ao pensar que estavam tão longe de casa em uma cidade estranha, tão grande e fácil de se perder, teve muitos pesadelos.
Na manhã seguinte todos levantaram cedo, mais Fernanda sentia-se indisposta e preferiu ficar no hotel. Maurício pediu que Inácio também ficasse, pois assim teria um tempo sozinho com Suzana e poderiam passear pelas ruas de mãos dadas como a muitos anos não faziam. Caminharam poucas quadras e chegaram a um café onde entraram e escolheram algumas guloseimas para levarem até o hotel. Na hora de pagar Maurício percebeu que havia esquecido sua carteira no hotel, então pediu para Suzana esperar ali que ele ira buscar.
Suzana mesmo tomada pelo medo ficou ali esperando o marido. Sozinha sentia um sensação muito desagradável, tinha vontade de devolver tudo e ir correndo para o hotel, mas esta ideia também lhe enchia de medo. Então achou melhor esperar, passaram-se 30 minutos, e mais 10, e mais 15. Suzana não aguentou esperar, devolveu tudo e foi para o hotel, seu coração quase sai pela boca, suava gelado e sentia calor ao mesmo tempo. Estava com medo, sentiu raiva por Maurício tê-la deixado ali, mas ao mesmo tempo se preocupou pois poderia ter acontecido alguma coisa. Suzana estava em pânico e pensava que estava ficando louca, sua cabeça parecia girar. Aproximando-se do hotel sentiu-se aliviada e foi direto ao elevador, mas resolveu voltar e falar com a recepção, pois era a segunda vez que andaria naquele negócio e não sabia como fazer.
Ao falar com o recepcionista seu coração quase parou, sentiu náuseas, tontura, parecia sufocar e saiu andando, sem rumo, apenas andando como um “zumbi” em direção a lugar algum. Nem pensava mais onde estava, apenas caminhou em silêncio, com os olhos vidrados, quase sem respirar, em passos lentos por horas e horas até escurecer. Após caminhar sentiu-se exausta e se encostou em um estabelecimento que lembrava aquelas vendinhas da sua cidade natal e ali ficou até fechar os olhos e adormecer. Acordou pela manhã num sobressalto, queria acreditar que tinha acordado de um pesadelo, mas seus olhos lhe contavam que ela continuava nele. Logo as portas daquele lugar onde estava abriram e uma velha com uma cara muito enfezada falou-lhe nada amigavelmente para ela ir embora dali. Levantou-se e saiu, mas ao entardecer se deu conta que havia voltado par ao mesmo lugar. E assim permaneceu durante noites e dias. Era o lugar mais próximo de um lar que agora ela conhecia, e por incrível que parecesse sempre lhe aparecia uma sobra de comida e isso fazia com que ela ficasse ali, passando-se dias, semanas e meses, apenas observando tudo ao seu redor, mas sem reagir a nada.
Numa certa manhã, achou próximo de onde ficava uma nota de 5 reais e como num piscar de olhos teve uma ideia, levantou-se e foi a um mercado próximo dali. Entrou e comprou algumas maças com aquele dinheiro, e voltando para onde sempre ficava. Todos os dias quando saia via uma fila enorme que parecia não ter fim, muitas pessoas a espera de um vaga para consultar. As pessoas chegavam bem antes do amanhecer e permaneciam até próximo ao anoitecer, demonstravam cansaço, fome e muita pobreza.
Quando ia passando uma senhora muito idosa, de pele negra, baixinha e magricela, com um lenço amarrado na cabeça olhou para Suzana, que como por impulso tirou uma maçã da sacola e ofereceu a mulher. Os olhos lhe brilharam e perguntou quanto lhe devia e meio sem jeito ela respondeu, 70 centavos. Logo outras pessoas se interessaram também, vendendo todas as maças rapidamente. Suzana voltou para o “seu lugar”e contou o dinheiro que havia arrecadado com a venda das maçãs, sentiu-se estranhamente feliz e voltou no outro dia ao mercado, gastando todo o seu dinheiro em mais maçãs e assim fez todos os dias.
Certa manhã aquela senhora que já não parecia mais tão rabugenta, não aguentou a curiosidade e perguntou-lhe o que estava fazendo. No final da conversa ela lhe deu um conselho: – Suas frutas estão muito baratas, arredonde o valor e facilitará o troco.
Assim as vendas continuaram todos os dias, não só ali próximo do hospital, mas em qualquer lugar que havia fila. Suas vendas aumentaram, e o seu coração começou a ser tomado por um sentimento de esperança, sentia uma sensação de satisfação e começou uma amizade com a dona rabugenta que agora já sabia o nome: Dona Laura que era uma senhora viúva que não tinha filhos. Vivia sozinha e tocava aquele estabelecimento que vendia de tudo e ao mesmo tempo não havia nada que se precisa-se lá. Era seu enlevo, apenas para ter o que fazer, só não fechava as portas ainda pois havia prometido ao falecido marido.
Logo, dona Laura ofereceu a Suzana abrigo e como pagamento eladeveria ajudar de vez em quando a organizar as coisas da venda, tornando-se cada vez mais próximas e construindo uma amizade grandiosa, como se já se conhecessem a séculos.
Anos já haviam se passado até que Suzana finalmente contou a sua história a dona Laura, lágrimas rolaram dos olhos ao lembrar de tudo. Quando Suzana chegou ao hotel, descobriu que o seu marido havia ido embora com Fernanda e que mesmo alguns amigos tentando lhe alertar ela nunca deu ouvidos aos boatos que eles eram amantes. Suzana, estando tão cega em administrar a fazenda deixou de lado sua casa e sua família, e Fernanda se apossou de tudo. E Inácio há muito tempo não a chamava de mãe, pois era Fernanda quem cuidava dele. Suzana foi negligente, abandonou sua família e teve o final que de certa forma merecia. Agora ela tinha ganho uma nova chance de recomeçar e um dia quando tivesse coragem procuraria o filho e pediria perdão pela sua falha.
Juliana Ribeiro Borges – Três Barras/SC – Brasil