O ano era 1996, no auge da crise de abastecimento do Brasil, período pós plano real e faltavam todos os produtos no mercado de vendas, principalmente automóveis. Eu vendia consórcios de automóveis e naquela feita Emerson, meu chefe Polachinni e eu fomos visitar o seu Severino que nos ligou informando que queria contratar nosso consórcio.
A localidade era a 58 quilômetros de distância da cidade, no município de Cruz Machado e ao chegarmos, como bom italiano, quis mostrar-nos todos os seus bens: produção de vinho, chiqueiro, lenha cortada, queijo, parreira de uva, milho, lavoura de soja, enfim tudo aquilo que interessava para ele. Quando chegamos já eram as 16:00 até ele nos mostrar tudo, já eram 18:00 e nós longe de casa. Quando tocamos no assunto da venda do consórcio com o seu Severino, ele nos respondeu, com seu típico sotaque italiano.
– Si, si, extou bem dixposto a fazer um conxórcio, mas é xó amanhã de manhã –
– Mas seu Severino, nós estamos…
– Non, non vocêx ficam pra pousar e amanhã de manhã fechamos o conxórcio.
Foi quando aparece a dona Amélia, a esposa do seu Severino, uma típica italiana, forte, de camiseta regata, sovaco peludo, que nos cumprimenta e começa a amassar um pão. Naquela época de verão fazia um calor muito forte, e eu reparei que ela amassava o pão, suando, coçava o sovaco e depois colocava a mão no pão de novo. Todos nós não pudemos deixar de perceber a forma que a dona Amélia cozinhava…
Para nós, ficar ali era um problema, pois naquela época não existia celular, nem e-mail e ali, naquela localidade, especialmente não havia nenhum tipo de comunicação, deveríamos ficar ali, sem avisar a ninguém. Por mim tudo, bem, pois minha esposa já sabia que eu viajava bastante, Polachinni era de Curitiba, só o Emerson é que teria problema com a esposa, mas no final ele decide ficar.
Lá por umas 20:00 foi servido o café da tarde, que era só café e pão, aquele pão amassado pela dona Amélia. O Emerson e eu, já acostumados com a realidade da zona rural, não tivemos problema, comemos aquele pão e nos empanturramos de tanto comer, já o Polachinni olhou o pão, olhou de novo, até que dona Amália perguntou:
– E o Polachinni, ma Dio Cristo, não vai comer o pom?
– Não, não vou comer, pois estou sem fome!
Ficamos ali conversando, por uns 40 minutos, luz de lampião, e ao lado um fogão a lenha, que tinha um pedaço de toucinho encima. Percebi que o Polachinni, não tirava os olhos do toucinho.
Fomos dormir e de repente, no meio da noite escutamos a barriga do Polachinni fazendo barulho, mas aquela barriga não parava de fazer barulho, até que ele se levantou e foi para a cozinha, provavelmente comer. Ele viu aquele toucinho encima do fogão a lenha, e não teve dúvida, comeu um pedaço, depois comeu outro, e como estava faltando pouco para terminar, comeu tudo e voltou para o quarto. Ele nos contou que o toucinho estava delicioso.
No dia seguinte, acordamos e fomos tomar nosso café da manhã que só tinha pão e café. Quando chega a dona Amélia:
– Severino, Dio Cristo, você não acredita no que acontexeu.
– Ma o que foi?
– O toicinho, do fogão a lenha, sumiu, procurei, procurei max non achei!
– Ma Dio Cristo, quem que consumiu meu remédio de paxar na hemorróida?
Diz que o Polachinni está vomitando até hoje.
Meu nome é Mário Pedroso, sou corretor de imóveis, moro no interior de Santa Catarina, na cidade de Porto União, Brasil.