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Lembranças de um jogador de futebol

Saímos de Videira no interior de Santa Catarina, quando eu ainda tinha meus 4 anos de idade e fomos morar em Porto União, também no interior de Santa Catarina. Me lembro que a casa onde morávamos tinha um quintal muito grande e meu pai, meu irmão e eu, brincávamos de futebol, quase toda a noite.

Como eu era muito pequeno e aprendi a jogar com os mais velhos, acabei desenvolvendo habilidades especiais, como por exemplo chutar a bola com as duas pernas e principalmente com a esquerda, o que era um diferencial.

Como meu pai era servidor público, após alguns anos nos mudamos para Canoinhas, também no interior de Santa Catarina e ali, minha primeira professora de educação física nos forçava a realizar muitos exercícios calistênicos, como por exemplo polichinelos, isso fortaleceu bastante a minha musculatura porém, nós da classe pulávamos o muro para jogar futebol no recreio, no campinho que ficava ao lado da escola. O tempo passa e juntamente com vários amigos montamos um time de futebol, que se chamou Inconfidência Futebol Clube e que se reunia para jogar no campo do quartel da Policia Militar da cidade. Infelizmente, após alguns meses, o time foi desfeito.

Num certo dia, fomos avisados da possibilidade de participar de uma “peneira[1]” para jogar no time da cidade e formamos uma equipe de crianças, na categoria dente de leite, que jogava por toda a região e treinava quase todo dia. Esses jogos e esses treinamentos permitiram que eu ganhasse experiência, que nos fizeram a todos ter um bom entrosamento e adquirir algumas habilidades.

Com o tempo, chegou um treinador de outra cidade, que me convidou para jogar no time dos adultos, naquela época eu era o mais novo do time e ganhei mais experiência ainda e foi quando comecei a ganhar dinheiro jogando. Após cada jogo, ganhávamos o “bicho[2]” e isso me incentivou a treinar ainda mais e esforçar-me bastante e ainda me lembro de chegar em casa feliz mostrando o dinheiro a meus pais que me elogiavam muito e se sentiam felizes por mim.

Curiosamente, um radialista de uma das rádios da cidade, ao me ver, sempre me chamava de “Divino”, que era uma referência ao famoso jogador de futebol do Palmeiras, o Ademir da Guia e que por algum motivo, este radialista me associava ao grande jogador, que na época era um dos maiores craques do Brasil.

Aos meus 17 anos, fomos convidados eu e um amigo a fazer um teste, mais uma “peneira” no Coritiba Football Club, quem nos levou foi o saudoso “Maneco” e eu acabei passando e ficando no clube. Na época o clube tinha um alojamento e eu acabei morando ali por algum tempo e dividindo um quarto com outros 5 atletas. Na época o Coritiba tinha dois jogadores muito famosos que jogavam até na seleção brasileira: o Washington e o Amaral e isso nos deu muita honra e muita experiência e animo para seguir adiante na carreira, tornando o clube um “trampolim” muito importante para galgar o trajeto para clubes maiores.

 

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Meu primeiro jogo foi um mês depois de minha chegada, contra o arquirrival do Coritiba, o Atlético Paranaense, num jogo conhecido como “Atletiba”. Empatamos o jogo e como o diretor do time gostou muito de minha atuação me chamou para viajar com a delegação para jogar em União da Vitória, porém como eu era mais novo, não pude jogar, mas fiquei entre alguns dos meus ídolos e isso me deu muita satisfação. No dia seguinte, já de volta a Curitiba, recebi mais um “bicho”, mas agora de time grande o que me ajudou e me incentivou muito a continuar treinando.

Num determinado dia, três atletas foram dispensados do time e saíram para beber e quando chegaram depredaram todo o alojamento, incluindo armários, camas, banheiros. Numa decisão, na minha opinião, impensada do diretor do clube, todos nós que estávamos usufruindo do alojamento fomos dispensados e tivemos que voltar para a casa, independente se tínhamos participado ou não da depredação. Voltei para a casa, apesar de minha inocência naquele fato.

Continuei meus treinamentos e num determinado treino, senti o joelho e apesar de ter ido a muitos massagistas, não consegui recuperar-me da lesão e em dois meses eu já tinha uma atrofia de 2 centímetros. Após fazer uma radiografia e uma consulta um médico constatou que tive rompimento parcial do menisco externo. E isso me fez desistir da carreira de futebol profissional, apesar de minha completa recuperação e de conseguir jogar no time da cidade e participar de jogos regionais e abertos por todo o estado. Mas foram os dois eventos que me fizeram desistir, o físico, com o problema do joelho e do moral, com a dispensa do time profissional, apesar de minha inocência.

[1] Peneira – nome de um processo de seleção de atletas dispostos a jogar em algum time de porte maior.

[2] Bicho – prêmio em dinheiro por ganhar o jogo oferecido a cada um dos jogadores do time.

 

Autor
Meu nome é Ricardo Ennes, sou professor de educação física e personaltrainner e moro em Canoinhas, no interior de Santa Catarina, estado do Brasil.

 

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