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Almas penadas do restaurante pinguim

Em certas noites de verão no ano de 1973 percorriam a noite no quintal do restaurante Pinguim almas vestidas de branco, muito perfumadas, pois seus perfumes inundavam as pequenas árvores (uma primaverinha, uma parreira, um sombreiro e um abacateiro), perfumes tais que se assemelhavam às rosas. Almas, assim intituladas por mim, devido à hora determinada por esses seres para saírem de suas “tocas” e pelo meu medo que as via como seres assustadores, seres impacientes, eufóricos, além de sussurrem coisas que não se dava para ouvir direito e, assim, em minha imaginação vinham ideias, temores e medos.

Almas penadas no restaurante

 

Eu, em minha mais tenra idade, as vigiava do canto da janela da sala de televisão, perto do cofre, onde ser algum poderia achar que tivesse alguém ali vigiando; falando em “vigiando”, essa era a minha tarefa no restaurante: vigiar os empregados e contar tudo ao pai ou a mãe.

O restaurante Pinguim ficava onde é hoje a Loja Imperial, a Auto Escola e a Loja de Ferragens, ao lado dos Correios, no centro da cidade de Canoinhas.

Contei ao meu pai, que contou ao açougueiro que tinha estabelecimento ao lado, Seu Chiquinho e, assim, na espreita, ficaram aguardando às almas passeantes da meia noite… A espera foi cansativa, pois parece que estas almas tinham descansado enfim em paz e deixado de circular no quintal do restaurante Pinguim.

Demorou dias… até que ouviu-se um barulho de coisas, risadas, sussurros e as “benditas” ou, talvez,“malditas” almas começaram a aparecer… Seu Chiquinho teve a brilhante ideia de colocar os tachos de lavagens, num total de 4 tambores fundos, percorrendo todo o muro de trás, muro este de divisa do restaurante com o açougue, pois seu Chiquinho duvidava de tal acontecimento espiritual… foi então que numa noite de lua cheia, quente, ouviram-se os gritos e todos que ainda se encontravam acordados no restaurante: o pai, fazendo o abastecimento de bebidas, a mãe (Verena), passando as toalhas engomadas para o almoço do outro dia, os meus irmãos Adelmo, Martinho e Roberto ajudando na limpeza, no abastecimento de bebidas, gelo, entre outras coisas… todos saíram correndo e lá encontraram apenas duas das quatro almas, apavoradas, se chacoalhando todas, mal cheirosas pela cobertura de lavagens de porcos, gemendo e reclamando sobre quem teria colocado tambores na passagem que se usava para fugir, para ir ao baile da Beira Rios… Aí a casa caiu…

Descobrimos que eram as cozinheiras que em vez de estarem dormindo, descansando para trabalharem bem no dia seguinte, estavam fugindo quase todas as noite para dançar no Beira Rio; nestes bailes naquela época ia-se de roupa branca e para darem boa impressão aos paqueras da época enchiam-se de perfumes.

Então o caso foi esclarecido, os espíritos dançarinos foram reconhecidos, tiveram que tomar vários banhos, em vários dias e o cheiro da lavagem de porcos não saía de suas peles, pois no momento que pularam o muro caíram direto dentro dos tambores fundos e cheios…

E assim o caso foi revelado, as duas ganharam advertência verbal e tudo voltou a normalidade, é claro que de vez em quando acontecia de todos olharem para elas e, às vezes, até entre elas mesmas a caírem em gargalhadas, acontecimento tal que fortificou ainda mais a amizade de todos os empregados e patrões da época. Ficaria mais fácil elas pedirem à minha mãe ou ao meu pai para irem ao baile, poderiam não deixá-las ir algumas noites – os dias mais apurados em tarefas do restaurante, mas em outros dias poderiam ir, pois minha mãe e meu pai assim nomeados pelos empregados eram seus segundos pais, também.

Acho que elas não se esqueceram deste fato; estas pessoas se encontram na idade de seus 65, 70 anos. Espero que elas estejam bem, pois além deste fato cômico, eram ótimas pessoas, excelentes profissionais e dignas de nosso carinho e respeito.

Desde aquele dia até os dias atuais nunca mais vi almas penadas, vi espíritos  de luz, anjos… mas esses fatos são outras histórias.

 

Autor
Lenita Maria Fuck. professora aposentada, filha de Silvino e Verena Fuck, residente de Canoinhas, nasceu em 08/10/62. Formada em letras pela faculdade Funorte de Mafra SC. Cursou várias especialidades em Educação, Inclusão, ferramentas Lúdicas de Aprendizagem, Letramento, Alfabetização, literatura Infantil, entre outros cursos voltados a educação. Lecionou por 35 anos na escola de Ensino Fundamental Sagrado Coração De Jesus – Canoinhas- SC

 

Almas penadas do restaurante pinguim
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One thought on “Almas penadas do restaurante pinguim

  1. Parabéns Lenita pela forma brilhante como deu vida a esse acontecimento é uma volta fidedigna ao passado e com o seu toque ficou divina!!!!!!
    Escreva sempre…é uma grande escritora!!!!
    Te admiro

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