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Cartas douradas

Samanta olhou aterrorizada para George – seu marido – caído no chão da sala. O terror congelou sua mente, mas seu corpo – veterano de vinte e cinco anos trabalhando como enfermeira no hospital local – moveu-se rapidamente para ele. Sua mão, habilmente procurando pulso no braço dele.

Um som de alívio saiu dos lábios da mulher de cinquenta anos. George tinha pulso, mesmo que muito fraco. Ela rapidamente se levantou.

-Tudo vai ficar bem – Samanta disse para si mesma – eu vou chamar o SAMU!

E, ao se virar, em direção ao antiquado telefone de fio, a mulher viu algo ainda mais aterrorizador que a vista do seu marido caído no chão, inconsciente. Bem ali em sua sala de estar uma figura encapuzada, adornada por uma túnica tão escura como o espaço entre as estrelas. Somente uma mão ossuda segurando uma foice não estava coberta por sua roupagem sombria. Samanta queria gritar, mas o medo a congelou. Ele ficou parada por um instante, apenas olhando a aparição, ambos imóveis, contemplando um ao outro.

A morte

Finalmente o cérebro de Samanta entendeu a situação, o anjo da morte havia chegado para levar seu marido, foi quando a figura encapuzada tirou o olhar da mulher e começou a estudar a sala de estar.

-Não, por favor, não leve o meu marido – A enfermeira suplicou.

– Eu levo todos, mais cedo ou mais tarde – Disse o ceifador – Você deveria saber disso melhor que ninguém.

Lágrimas começaram a sair do rosto da mulher. Ela se aproximou da aparição e se ajoelhou.

-Por favor – Samanta suplicou novamente, com o rosto encharcado e a voz fraca.

-Eu vi você quase todos os dias por mais de vinte anos – Falou o anjo da morte – Certo, vamos fazer uma aposta – O ceifador continuou – Eu não pude deixar de notar o troféu naquele armário – Uma mão ossuda apontou para um troféu para melhor jogador de poker – Quem vencer três mãos ganha.

A esperança fez os olhos da mulher brilharem.

-Se você vencer eu vou tirar sete anos da sua vida e vou dá-los ao seu marido.

-E se eu perder? – Samanta perguntou.

-Se você perder eu vou levar vocês dois.

A figura estendeu sua mão, composta apenas de ossos. Samanta apertou a mão do ceifador, embriagada com uma mistura de determinação e medo.

Eles se sentaram de lados opostos da mesa de centro. O anjo da morte tirou um baralho de cartas douradas de sua manga e as embaralhou habilmente. Samanta cortou o baralho e deu cinco cartas para cada um. Samanta venceu a primeira mão com um par de reis contra um par de setes. A morte venceu a segunda mão com três cincos contra um par de valetes.

-Qual o sentido da vida? – Samanta perguntou ao ceifador.

-Por que você acha que o anjo da morte teria a resposta para essa pergunta?

Ambos mostraram suas mãos. Samanta tinha dois pares, mas a morte tinha um fullhouse. Dois a um para o ceifador. A enfermeira quase desmaiou, ela não podia perder mais nenhuma mão.

-Eu vou vencer Samanta, eu sempre venço, no fim.

Samanta sorriu e mostrou quatro azes para o ceifador. O vencedor da próxima mão ganha. Samanta embaralhou o baralho dourado e o ceifador deu cinco cartas para cada um. Na mão da mulher estavam um ás, um rei, uma rainha, um valete e um sete. Quase uma sequência alta. Ela colocou o sete novamente no baralho, e comprou mais uma carta. No entanto, antes que ela pudesse ver a carta o ceifador falou:

-Ah, eu esqueci de mencionar, você só tem sete anos de vida.

Essa revelação fez o estomago da mulher congelar. Ela morreria de qualquer jeito. No meio do terror e do arrependimento um pensamento ecoou na mente de Samanta Pereira.

-Eu ainda posso salvar George.

Ela então virou a carta, revelando um dez. O ceifador riu brevemente, apreciando a ironia da situação.

-Eu sempre cumpro minhas promessas – disse a aparição antes de reviver George e levar Samanta para a terra dos mortos.

 

Autor
Meu nome é J.P.L.P, sou estudante de Ciências da Computação e moro em Palmeiras das Missões, no interior do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil.

 

Cartas douradas
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