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Buscando novos horizontes

Eu estava casada já há 3 anos e estava grávida de meu segundo filho, quando meu marido me “avisa” que estava pensando seriamente de deixar nosso país e ir tentar a sorte no Brasil. A vida em nosso país estava muito difícil, havíamos acabado de sair de um governo socialista que deixou o país com muita pobreza, falta de alimentos, etc. quando ele me contou sua vontade de ir morar no Brasil, eu lhe disse enfaticamente:

– Não, não e não!

Não queria separar-me de meus pais, e já era a segunda vez que ele me dizia que deveríamos ir-nos ao brasil. Eu era muito jovem e muito apegada a meus pais, principalmente à minha mãe. Morávamos, naquela época na cidade onde havia nascido, cidade grande que adoro até o dia de hoje. Morávamos num apartamento perto do centro e minha mãe, professora de inglês, trabalhava no Colégio Alemão a dois quarteirões de nosso apartamento. Meu pai ia todos os dias a buscar minha mãe passando por nosso apartamento para sair a passear com meu filho mais velho, que naquela época tinha 1 ano e meio. Comecei a pensar na ideia de ir ao Brasil e perguntei ao meu marido por quanto tempo seria nossa aventura pelo Brasil, e ele me respondeu que seriam somente 3 anos.

Pensei muito, e a ideia começou a interessar-me, pois éramos jovens, conheceríamos outro país e aceitei a ideia de sair, mas só por 3 anos.

Começamos a verificar os tramites para tirar passaporte, preparar todos os papéis que precisávamos e minha barriga crescendo… Meu marido viajou ao Brasil para buscar um emprego e ver as possibilidades futuras. Ele é Engenheiro de produção de Madeiras, profissão que naquela época não existia no Brasil. Ao dia seguinte de sua chegada ao Brasil, encontrou um emprego na empresa onde um amigo nosso trabalhava. Voltou ao Chile, encantado com o Brasil, e me levou um exemplar de um jornal para que eu visse como era grosso e cheio de matérias. Ele me contou que os supermercados eram tão grandes que vendiam desde frutas até roupas, que era um país muito moderno comparado ao nosso.

Vendemos todas as nossas coisas, nosso carro e fomos a morar temporariamente com meus pais enquanto esperávamos os papéis para morar no Brasil. Minha barriga crescendo, até que decidi que meu marido deveria viajar sozinho, pois percebi que meu filho mais velho não teria com quem ficar quando o segundo nascesse.

No dia 1º de janeiro de 1975, meu marido se despedia de mim e de meu filho mais velho, para empreender uma nova vida em outro país, pois decidimos que ele viria me buscar depois do nascimento de meu outro filho. No dia 15 de janeiro, nasce meu segundo filho, outro menino que só ficamos sabendo no momento, pois naquela época não tínhamos acesso aos exames de ultrassom.

Três meses depois do nascimento de meu filho, meu marido veio a buscar-nos. Numa mistura de sentimentos, triste por deixar meu lindo país e meus seres queridos, mas feliz por viver uma aventura no país estranho… nossa viagem rumo a nossa futura vida foi tranquila e eu muito ansiosa por ser a primeira vez que saia do país, com aresponsabilidade de ter que cuidar de dois filhos pequenos que dependiam de mim e de meu marido.

Buscando novos horizontes

Depois de três horas e meia de viagem o avião aterrissou no Rio de Janeiro e me lembro que quando abriram as portas do avião, foi impressionante a sensação de calor e umidade que senti, parecia uma onda sufocante que me envolvia.

Um ano depois de chegar ao Brasil, tivemos uma filha, todos estudaram aqui, formaram família e tivemos 7 lindas netas e um neto que são nossos grandes amores.

Fazem 42 anos que saímos de nosso país, mas por 11 anos moramos na Argentina, voltando ao Brasil, em 2012. Todos os anos vamos ao Chile, mas tudo mudou, os pais morreram, um país moderno com uma economia muito estável e melhor que a do Brasil. Meu marido continua trabalhando e muitas vezes pensamos em voltar, mas é tão difícil deixar filhos e netos…

Autor
Erika Araneda Hecker – Canoinhas/SC – Brasil

 

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