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A água do excêntrico

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Sami era um artista diferente, gostava de usar roupas vermelhas, principalmente sobretudos de veludo e se fosse com calças pretas, também de veludo, melhor ainda. Além disso, e principalmente no inverno usava um quepe preto, que segundo alguns cheirava cabelo (provavelmente nunca havia sido lavado), além disso, um cavanhaque e óculos redondos que denunciavam sua urbanidade e, seus poucos cabelos, já acusavam sua longa experiencia.

Mas era conhecido e admirado, principalmente por ter ganhado a admiração de vários intelectuais famosos da época, em Lima, no Peru, e até o Presidente da República e o presidente da Escola Normal de artes já tinham lhe conferido homenagens, inclusive a de Doutor Honoris Causa. Entre suas façanhas artísticas, Sami tinha criado um padrão musical que contrabalançava com as enormes partituras alemãs e russas.

O modelo minimalista, com peças musicais e composições com poucas notas musicais, porém repetidas muitas vezes, influenciando ícones como Maurice Ravel, em seu inesquecível “Bolero”.

Por ser tão polêmico e, em muitas de suas obras inovador, foi um dos precursores do termo “surreal”, pois em suas músicas, pela primeira vez na história da humanidade são ouvidas no fundo, máquinas de escrever, ruídos de balanço de crianças, tiros de armas, relâmpagos e até mesmo latidos. Foi a primeira vez em Lima que até mulheres casadas, com seus maridos, e até o Presidente da República ia a um cabaré para apreciar a arte de um músico…

Aos seus 48 anos, Sami se apaixona pela primeira vez em sua vida, por uma bailarina do cabaré em que ele tocava todas as quintas e sextas-feiras a noite. Melissa não era uma das vedetes mais cobiçadas do cabaré, nem era a mais bela, mas chamava a atenção por seu temperamento decidido e suas piadas sarcásticas que muitas vezes deixavam os ouvintes perplexos e contavam detalhes pessoais da vida de Sami, como por exemplo que ele tinha um mamilo embaixo da axila direita e que quando bebia demais, ao dormir, em seus sonhos, latia como um cão medroso.

Obviamente que esses detalhes incomodavam Sami, mas era visível sua felicidade ao lado dela, que apesar de não ser somente dele, lhe trazia prazer e lhe fazia companhia nas frias noites solitárias de inverno limenho.

Após 2 anos e meio de relacionamento Melissa decide terminar o relacionamento de maneira abrupta, sem muitas explicações, somente informando a Sami e a todos, o fim.

Exatamente 25 dias depois já começa a namorar com Torreblanca, o conde de Cieneguilla, que apesar de ter fama de mulherengo, era um dos solteiros mais cobiçados de toda Lima. O romance ficou famoso e o casal foi um dos mais comentados e festejados do momento, não só por que o conde finalmente se relacionara firmemente com alguém, após muito tempo de galhardia e boemia, mas também porque ela ser a ex de Sami.

Sami ficou arrasado e pouco pode fazer para reverter a situação, e apesar do esforço de seus amigos para tira-lo de um possível quadro de depressão, o artista realmente entrou em uma fase de muita tristeza e muito álcool. Bebia todos os dias, muitas vezes tinha que dormir no cabaré, porque acabava desmaiando em cima do piano que tocava.

Mas apesar de toda a má fase de tristeza e desconsolo, Sami produziu várias obras interessantes e aclamadas pelo público.

Aproximadamente um ano após o término do relacionamento Sami vai parar num hospital por excesso de consumo de bebida alcoólica e lhe detectam cirrose hepática, estava amarelo, tanto seus olhos como toda a sua face, e naquela época, cirrose era o fim… Deixou seu apartamento na Avenida Atahualpa e se internou no melhor hospital da cidade, tudo pago pela Condessa del Callao, uma admiradora apaixonada pela sua arte.

Possivelmente foi o lugar mais luxuoso que Sami tinha vivido até então. Aos 2 meses de internado, acaba falecendo e é enterrado no cemitério central da cidade.

Alguns dias após o enterro, quando seus amigos entram a seu apartamento, uma morada de um quarto, banheiro, cozinha e sala, sentem um cheiro muito forte, moribundo, um cheiro de podre… Se surpreendem com a bagunça, sujeira e com dois pianos, um no meio da sala e outro estranhamente pregado à parede.

Começam a desmontar o apartamento, para vender o que ficou do artista e quando tiram o piano da parede encontram-se com um poema e uma garrafa de um litro com um líquido até a metade. Abrem a garrafa e o cheiro moribundo dali era proveniente, o descartam imediatamente e limpam todo o apartamento, deixando-o habitável novamente. Um dos amigos leva o poema para a casa e ao chegar, se assusta com o que dizia:

Água da bunda no banho,

Água da boca com ranho

Águinha fedida

Água maldita, água abençoada

Água que cura, água que mata

Água chulé

Água do pé

Água que cura minhas tristezas

Água que mata infiéis

Um dia minha vingança tomará lugar.

Meu nome é Alvaro Concha, sou Trader, tenho 4 filhos e moro em Porto União, uma cidadezinha do interior do Brasil, no estado de Santa Catarina.

A água do excêntrico
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