2.762 leituras

A cura através do amor

Disculpa, pero esta entrada está disponible sólo en Portugués De Brasil. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in the alternative language. You may click the link to switch the active language.

Eu estava sentado após um longo dia de calor. Em uma das mãos meu instrumento de trabalho, o violão. Me sentia exausto, suado com o calor daquele dia que beirava os 40º, eu imagino. Mas a sensação térmica era muito pior, pois meu jeans surrado e minha camisa meio desbotada pareciam grudar em meu corpo. Alguns dias da semana me apresentava em um shopping para levantar algum dinheiro. Meu sonho era tornar-me um músico, mas isso dependia mais de sorte do que talento.

De repente ela se aproximou, com o seu riso largo, cabelos longos e ruivos e olhos claros e brilhantes. Olhou para mim sorrindo e falou olhando em meus olhos. Eu conheço você, estou quase lembrando. Sim! É você! Adoro suas músicas, sempre as ouço. Vamos tirar uma foto!

Ela se aproximou e me abraçou tão forte que eu me senti protegido. Senti seu perfume delicado e um calor aconchegante. Eu poderia viver dentro daquele abraço!

 

Tiramos a foto, ela se afastou um pouco e sentou-se em uma cadeira à minha frente. Passou seus dedos entre os cabelos e caiu uma mecha e ela naturalmente falou – caiu uma mecha do meu cabelo! O seu irmão estava próximo e disse – deve ser por causa da “quimio”. E ela me olha e falou para eu não me assustar por que ela não estava assustada. Conversamos um pouco sobre os vídeos que eu havia postado em uma página da web. E eu me sentia envaidecido por saber que ela os havia visto e mais, ela gostava das músicas e as sabia de cor.

O tempo passou rápido e quando percebemos já era noite e hora dela ir para casa. Trocamos telefone e combinamos de nos ver novamente. Era tão maravilhoso estar ao seu lado que eu parecia conhecê-la a minha vida inteira.

No outro dia fui apanhá-la em casa. Ela abriu a porta e eu não pude deixar de perceber seus pais espiando pela janela. Ela também havia percebido e continuou sorrindo ao meu encontro e me cumprimentou com um delicioso abraço. O seu pai aparentando uns 70 anos, cabelos brancos, estatura mediana e um pouco acima do peso sorriu com um ar de satisfação para mim e fez um sinal de positivo, confesso que fiquei meio encabulado. E então ela nos apresentou de longe e sua mãe também sorriu, mas com um ar meio preocupado. Sua mãe me pareceu muito dócil e preocupada, talvez um pouco desconfiada. Os dois usavam roupas tons pastéis, mas não era feio.

Passamos por alguns lugares e paramos fazer lanche. Na sua companhia tudo era prazeroso e espontâneo, eu não me sentia tímido e nem nervoso. Nossa conversa fluía naturalmente e estávamos sempre sorrindo enquanto falávamos.De repente ela passou as mãos nos cabelos e falou:

– Esses cabelos não são meus! É uma peruca, eu gosto deles, me sinto bem e gostaria que você soubesse.

Confesso que essa declaração me pegou de surpresa, mas pedi a ela para vê-la sem a peruca se ela não se importasse. E ela não demonstrou nenhuma reação negativa, sorriu e retirou a peruca.Ela era linda. Seus cabelos pretos bem curtinhos realçavam o seu rosto em uma harmonia fascinante.

Fiquei vidrado por um momento até que falei que ela era perfeitamente linda! E pela primeira vezvi o seu rosto ruborizar. Levei-a para casa, pois eu tinha uma apresentação marcada para mais tarde. Eu a convidei e ela aceitou.

Quando comecei a cantar ela estava lá, e eu cantei para ela, cada música, cada melodia. Cantei como eu nunca havia cantado antes, com o coração e com a alma. Nossos olhos se encontravam e eu parecia flutuar. Eu nunca havia me sentido assim, como se tudo estivesse na mais perfeita harmonia. O show terminou, me aproximei daquela bela moça agora com os cabelos curtos e saímos caminhando até pararmos em frente a sua casa e corajosamente roubar-lhe um beijo, o mais belo e apaixonante beijo. Sim! Eu a amava desde o primeiro instante que eu a vi.

Começamos a nos encontrar todos os dias, arrumei um emprego na mesma escola onde ela lecionava algum tempo atrás. Comecei a dar aulas particulares de música e de vez em quando me apresentava em algum barzinho.Ela era professora e atendia crianças com necessidades especiais, prestava serviço voluntário em um hospital na ala infantil e encantava com a sua doçura por onde quer que elapassasse.Seus pais a amavam e só queriam vê-la feliz e sorrindo, eram muito bem humorados e sonhavam com o seu casamento e, claro, netos.

Nós vivemos felizes por muito tempo, não nos casamos e nem tivemos filhos, passamos momentos complicados cada vez que o câncer voltava. Mas o amor é tão maravilhoso que ele foi capaz de curar. Infelizmente não o câncer, pois ele afetava o corpo físico e levou a minha amada para um lugar melhor. Mas curou o meu coração tão amargurado e triste e também minha alma que há muito tempo, antes de eu conhecê-la, não tinha mais o gosto pela vida. O seu amor me curou e me trouxe várias lições.

Aprendi tanto nesse tempo que vivemos juntos, que valeu pela vida toda. Não lamento sua morte, pois ela sempre está presente e sei que um dia nos uniremos novamente. Ela cumpriu a sua missão aqui e eu ainda estou cumprindo a minha.Mas acima de tudo aprendi que o amor não é físico que podemos amar as pessoas ao nosso redor, desejando o bem, ajudando e compartilhando a nossa vida.

Muitas vezes não precisávamos de palavras para demonstrar o quanto nos amávamos bastava um olhar, um sorriso, um abraço ou apenas o silêncio.

 

Autor
Meu nome é Juliana Ribeiro Borges, sou casada, professora de Educação Infantil e moro em Três Barras, no estado de Santa Catarina, no interior do Brasil.

 

A cura através do amor
Avaliação: 5 estrelas
Total de votos: 5

Deja un comentario

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *