Manuela d’Ávila foi até os ermos do Cairo, para conversar com egiptólogos que lidavam com artefatos datados da época de Hermes Trismegisto, que diziam ser contemporâneo de Abraão.
Sim, o grande Abraão do antigo testamento, se tivesse sido discípulo de Hermes Trismegisto isso fazia seus conhecimentos serem muito mais profundos.
Essa paixão, por essa misteriosa e complexa história fez Manuela d’Ávila, ir ao encontro de um velho egiptólogo chamado Abdul Aziz que era muito conhecido por sua vasta experiência, mas era também conhecido por ser um mercenário implacável.
Depois de alguns dias à procura do mercenário, foi dado a ela um endereço que era de um lugar já conhecido por ser um território perigoso. Um lugar onde se reuniam ladrões de artefatos religiosos, lugar que era conhecido como amaldiçoado, pois os homens que faziam seus comércios naquele local profanavam túmulos de faraós.
Manuela d’Ávila, chega no local e se depara com um egípcio mal-encarado na porta.
– Boa tarde! Sou Manuela d’Ávila sou historiadora, estou a procura do senhor Abdul Aziz, deram este endereço, ele está? Por favor é muito importante pra mim.
O homem mal-encarado, olha Manuela d’Ávila dos pés à cabeça, pergunta sua nacionalidade e pede para ela aguardar, disse para ela não tocar em nada que ele iria perguntar se sua entrada seria permitida.
– Meu Deus me proteja, não me deixe desistir! Como sou maluca, olha esse lugar, olha essa gente mal encarada, nada pode dar errado, um passo em falso e eu tô frita!
Ela já começava a ver que tudo aquilo seria muito perigoso, pois se tratavam de pessoas do mal, e eram coisas sagradas que estavam em jogo, mas desistir não estava no seu currículo, o que a jovem egiptóloga queria ela ia atrás
Depois de angustiantes minutos, o tal homem vem e permite a entrada.
– Pode entrar mulher, mas tenho que te aconselhar a não interromper a fala do senhor Abdul, não queira vê-lo nervoso mocinha, entendeu?
– Sim! Claro, minha visita é profissional
Ela entra e fica encantada com o que vê, era uma casa muito velha em um beco úmido, mas estava recheada de artefatos egípcios, tesouros de faraós, tudo que uma historiadora gostaria de encontrar.
O senhor estava no fundo da casa sentado em uma cadeira. Baixo, moreno, de barbas brancas e um semblante completamente carrancudo que se apresentou como Abdul Aziz.
Ela foi até o velho de barbas brancas Abdul Aziz, que logo a interpelou com certa truculência.
– O que quer aqui mulher ocidental? Sabe onde estás? Vamos, diga o que quer? Vamos mulher, o quê foi? O gato comeu sua língua?
Ela ficou um pouco sem jeito, pois não esperava ser tratada com tanta truculência, mas tomou coragem.
– Me chamo Manuela d’Ávila sei que é um egiptólogo antigo e também muito influente, estou a procura de pergaminhos com a história de Hermes Trismegisto, fiquei muito fascinada com suas histórias, e quero estudar a respeito, tenho como pagar um bom dinheiro.
O velho egiptólogo olha Manuela d’Ávila nos olhos, fica imóvel, apenas olhando nos olhos da jovem, depois de segundos constrangedores fala.
– Sim tenho um pergaminho com um resumo da história e ensinamentos de Hermes Trismegisto, mas você tem que saber que é um pergaminho sagrado, você tem que ter todo o cuidado, pois senão poderá ser amaldiçoada, eu mesmo não tive coragem de abri-lo, não sei o que se encontra dentro dele, sei o conteúdo apenas pela introdução no selo. Mas vejo que a mocinha é intendida no assunto!
– Gostaria de ser tratada pelo meu nome senhor Abdul, meu nome é Manuela d’Ávila, por favor me chame de Manuela.
Depois de meia hora de conversas e acerto de valores, Manuela d’Ávila conseguiu arrematar o pergaminho de Hermes Trismegisto.
Rapidamente se despede do velho egiptólogo e sai sorrateiramente, pois agora estava como uma posse ilegal no Cairo. Ela vai para o hotel fazer as malas, tinha que pegar o voo para Espanha naquele mesmo dia, mas já no quarto de hotel, nossa historiadora começou a sentir um leve enjoo, mas não ficou preocupada, até porque tinha sentido fortes emoções ao encontrar Abdul Aziz e arrematar o pergaminho.
Mas os enjoos tinham relações diretas com o pergaminho, nossa jovem historiadora não sabia, mas desde que se apossou do artefato tudo mudaria em sua vida.
Ela faz as malas e vê que o enjoo começa a diminuir, mas no quarto do hotel pegando as últimas coisas para sua partida ela escutou um certo barulho vindo do banheiro e rapidamente foi verificar.
Ao chegar no banheiro vê que não há ninguém, mais no espelho embaçado pelo vapor do banho quente, estava escrito a palavra paciência, começava ali um mistério, já que ela estava sozinha no quarto, e tinha certeza de não ter escrito tal palavra, pois paciência era uma das coisas que ela não tinha.
Intrigada com a palavra paciência, justamente paciência, parecia ser um recado diretamente para ela, mas seguiu seu caminho indo para o aeroporto, com o pergaminho devidamente escondido.
Todos sabemos que o trânsito do Cairo é caótico, mas o táxi de Manuela d’Ávila estava infinitamente lento fazendo a nossa historiadora ficar nervosa, sem paciência, ela diz ao taxista.
– Senhor! Por favor vá mais rápido preciso chegar logo no aeroporto, o senhor está muito lento, nossa! Se continuar assim o carro vai andar de ré.
O estranho taxista ficou alguns segundos sem dar a resposta para ela, depois olhou calmamente para trás dizendo.
– Você tem que ter paciência, lembre-se paciência
– Ela dá um grito, o rosto do homem, aparece para ela em forma de um olho enigmático, um enorme olho, uma imagem terrível, mas por poucos segundos, logo voltando a forma do rosto do estranho taxista.
– Pare o carro agoraaaaaaaaa!
– O que foi senhora? Porquê gritou desta forma? A senhora está pálida! O que aconteceu?
Não disse nada, extremamente amedrontada, pagou o taxista e saltou do carro, o susto foi muito grande para poder seguir viagem com aquele homem.
– Meu Deus! O que foi aquilo? Que olhar horrível o que significa tudo isso? Será que estou delirando?
O seu desespero era tão grande que ela não mais se lembrava do que o olho se tratava, mas ela sabia o significado do olho da providência, mais conhecido como o olho que tudo vê, um símbolo illuminati.
Muito nervosa com todo o acontecido parou em uma espécie de café, pediu água ao garçom, sabia que o voo já estava perdido, mas não se preocupou, pois, estava mais preocupada com o tal olho, que naquele momento já se lembrava do que se tratava, o olho da providência, ou o olho que tudo vê.
– Estou vendo essa imagem em minha mente, vim atrás dos ensinamentos de Hermes Trismegisto, porque essa imagem veio à minha cabeça.
Ali mesmo no café, Manuela d’Ávila correndo um enorme risco, abriu o pergaminho sagrado, sua curiosidade não mediu consequência para tal loucura, era totalmente profana sua atitude.
O velho egípcio disse para Manuela d’Ávila ter prudência, mas a historiadora desrespeitou o que o velho Abdul Aziz falou, abriu o pergaminho no meio da multidão.
No momento que abriu o pergaminho eis que um vento soprou no café, pairou no ar uma névoa branca que todos puderam avistar o estranho fenômeno, todos ficaram assustados, mas ninguém percebeu a correlação com o pergaminho.
Nossa historiadora olha pela janela do café e avista um homem do outro lado da rua, um homem alto de cabelos e barbas brancas vestindo uma túnica azul. Era uma figura estranha que ficou a olhar no fundo de seus olhos, ela se assusta, mas saiu rapidamente do café na intenção de ver mais de perto o tal homem de túnica azul
Mas ao chegar na calçada o estranho homem tinha sumido como num passe de mágica, ela ainda meio atordoada com tudo aquilo, andou pela calçada sem saber o que fazer.
Já tinha dado baixa no hotel e não seria possível pegar o voo para Espanha. A tristeza e preocupação era grande em seu coração, ela começou a chorar, estava apavorada, olhou novamente para o outro lado da rua viu que o tal homem de túnica azul estava a correr, ela então correu atrás do tal homem gritando, aquilo era uma loucura, mas ela estava muito envolvida pra desistir.
– Ei! Senhor, espere! Por favor senhor, porque foge? Quero lhe fazer algumas perguntas, senhor, não foge homem!
O homem com rapidez entrou pelas vielas estreitas do Cairo, mas Manuela d’Ávila sempre ao seu encalço, queria saber o porquê daquele homem estar fugindo, nem pensou o quanto aquilo poderia ser perigoso.
Depois de alguns minutos correndo atrás do estranho homem, viu que ele entrou justamente no local onde ela pegou o pergaminho. Era muito estranho, ela não tinha visto aquele homem naquela antiga casa, então a historiadora parou, pois, aquilo já estava estranho demais, poderia ser uma armadilha.
Lembrou do mercenário Abdul Aziz, pensou que pudesse ser uma investida para tomar o pergaminho de volta, quando ela estava prestes a dar as costas para a velha casa, eis que um mantra veio de dentro de sua cabeça
Uma melodia que parecia hipnotizá-la e mais uma vez em sua consciência viu o tal olho, o olho que tudo vê, ela não conseguia deixar de ouvir o tal mantra, que já dominava sua mente fazendo sem que ela percebesse sua entrada na tal casa.
Escutava levemente alguém chamá-la, era uma voz celestial que reverbera em sua mente.
– Venha! Venha cá! Estou no centro do labirinto.
Mesmo tudo aquilo sendo uma imensa loucura, ela ia cada vez mais se embrenhando no enorme labirinto, seduzida pela voz que a chamava.
– Venha até a mim! Venha não tenha medo,
– Se chegares aqui, terás a vitória, será dado a você todo o conhecimento do mundo, todo mistério, a chave do pensamento!
A ambição já tomava conta do seu ser, isso fazia ela entrar cada vez mais no labirinto. Mas quanto mais andava mais a voz ficava baixa, dando a impressão de estar mais longe, ou Manuela d’Ávila estaria andando em círculos?
Já exausta ela se deitou no chão, e depois de alguns minutos acordou e olhou para o alto e viu vários olhos piscando para ela.
– Moça! Moça! Se acalme, o que houve? A senhora desmaiou?
Manuela d’Ávila não entendeu nada, pois já não existia o labirinto, já não tinha a tal voz, e não estava com o pergaminho em suas mãos. Só então cai em si, percebe que tinha desmaiado e nada daquilo tinha realmente acontecido.
Ela se levanta com a ajuda dos comerciantes, mas ao olhar por trás deles deu um grito.
– O que foi a moça? Por favor, se acalme.
Ela apontou o dedo em direção ao final da rua, estava com o semblante apavorado, pois lá estava, o estranho homem da túnica azul com o pergaminho nas mãos.
Meu nome é João Damaceno, moro em Santos, no litoral de São Paulo e sou Mecânico Industrial e escritor.