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O poder da fama

Carlos Andrade Filho era um famoso ator que brilhava nas telinhas da emissora nacional com maior Ibope dos últimos tempos. Carlos, era pouco modesto, amava ter o seu nome estampado nas capas de revistas e as críticas sensacionalistas nas colunas sociais.

Por onde passava eram só gritos de elogios e fãs endoidecidas querendo uma selfie ou quem sabe algo a mais, mas apesar da fama era um ser quase intocável e sua satisfação era andar rodeado de seguranças e dar shows de estrelismo por onde passava. Com exigências intermináveis.

Em seu camarim encontrava-se desde as coisas mais caras até as mais exóticas, vestia-se com cores vibrantes, túnicas estampadas e roupas extravagantes. Amava seus calçados tipo Alladin e sua sexualidade era questionada pelos bastidores.

Em seu próximo trabalho viverá um caso de amor em uma minissérie em horário nobre, com uma atriz idolatrada pela mídia, mas não tanto quanto ele, pois ele era o melhor dos melhores e isso ele fazia questão de afirmar constantemente.

Primeiro dia de ensaio eis que uma tragédia afeta as gravações e a estréia da nova minissérie. Todos são atingidos com a notícia de que a atriz com quem Carlos contracenaria sofrera um grave acidente e precisaria ser substituída. Todos ficaram abalados, mas precisam começar as gravações e assim contratar uma nova atriz imediatamente. No dia seguinte todos estão ansiosos, para a apresentação da nova atriz ao elenco e a Carlos, é claro, o mais ansioso de todos. Horário marcado para as devidas apresentações, mas o mal tempo faz a nova atriz se atrasar, pois com a chuva forte os bueiros mais uma vez não suportaram a grande quantidade de água, inundando as vias de acesso até o local de gravação.

Carlos foi chamado pelo diretor, antes que começasse seus ataques de histeria devido à demora da atriz, sendo-lhe revelado quem era a nova atriz. Através de uma explosão de fúria e revolta ele se manifestou. Seus gritos eram ouvidos lá de fora e todos ficavam assustados e curiosos para saber o motivo de mais um dos seus previsíveis espetáculos.

 

Carlos ficou extremamente revoltado, pois a atriz tratava-se de uma novata, nunca antes ouvida, com nome de Madalena Beatriz da Luz. Sem poder adiar mais as gravações Carlos aceitou, mas fez mil reclamações e ameaçou desistir do papel caso ela não fosse boa o suficiente.

Madalena finalmente chega e foi diretamente para o local das gravações. Já na primeira cena quando Carlos finalmente olha para a moça seguindo o texto, deixou todos nervosos. Pois aconteceu algo que até então ninguém tinha visto acontecer. Carlos travou, ficou imóvel, sua voz não saiu, seus olhos ficaram fixos a modo de nem piscar. Demorou um tempo, todos se entreolharam e ficaram mudos até que corajosamente alguém falou com Carlos perguntando se estava tudo bem. Ele pareceu voltar para o corpo e meio sem jeito pediu um copo de água reclamando do calor. Não havia tempo para ensaios e foi preciso refazer várias vezes as cenas.

Carlos cada vez que olhava para Madalena sentia-se estranho, enjoado e tonto. Ficava com raiva, pois pela primeira vez não conseguia controlar o seu corpo, a sua voz e a sua concentração não era mais a mesma. Após exaustivas horas de gravações conseguiram concluir a primeira etapa.

Carlos chamou o diretor e reclamou de Madalena, chamando-a ridiculamente de bruxa e feiticeira.  Apesar da cena ele estava cômico e o diretor, mesmo preocupado, tentava não rir. Carlos tinha umas crenças estranhas e virava motivo de piadas por todos que o conheciam pessoalmente, quando nervoso então, virava o centro das atenções com o seu jeito atrapalhado e desastrado. Era muito divertido de ver e ele acabava se isolando sentindo-se ridicularizado, mas nunca perdia a pose empinando o nariz e reclamando como sempre.

O diretor tentou acalmar Carlos e sugeriu a ele que conversasse com Madalena. Mas ele só aceitou a sugestão após algum tempo e mandou chamá-la como se estivesse convocando-a para uma audiência. Empinou o nariz, olhou para moça tentando disfarçar o nervosismo e pediu-lhe que ela o acompanhasse até o seu camarim.

Um frio percorria-lhe a espinha como se estivesse a caminho de ser executado. Suas pernas começavam a tremer, suas mãos suavam frio e sua boca secou. Quando entraram ele rapidamente fechou a porta, seu coração acelerou fazendo-o ficar ofegante e começou a andar de um lado para o outro, agora as palavras lhe sumiram e ele nem sabia mais o que estava fazendo. Madalena estava imóvel num canto com o olhar perdido e com medo, de repente como num impulso que nada nem ninguém poderia explicar ele a empurrou contra a parede e a beijou demoradamente até perder o ar e ela deixou ser beijada por ele, sendo invadidos por uma explosão se sensações. Até que Carlos despertou daquele transe que os unia, nem mesmo sabia o porque fez aquilo e saiu rapidamente sem dizer uma só palavra como se estivesse fugindo.

Quando chegou em casa Carlos estava confuso, não sabia o que o levou a agir daquela forma, mesmo sendo tão famoso e assediado era muito discreto e dificilmente se interessava por alguém. Era tão focado do trabalho que esquecia de sua vida amorosa.

Chegou no quarto e se jogou na cama. Ficou ali durante horas sem conseguir adormecer. Lembrou-se de Madalena, dos seus olhos brilhantes que pareciam invadir-lhe a alma, lembrou da sua pele clara e como suas bochechas ficavam levemente coradas quando ela o olhava, seus cabelos negros e longos e seu perfume levemente adocicado. Seus lábios carnudos e rosados, seus sorriso e dentes branquinhos. Ela era linda e encantadora, e ele nunca havia se sentido assim por ninguém, ficou a noite inteira acordado e sonhando com ela e nem se recordava direito como havia chegado em casa. Sua cabeça parecia explodir, seu corpo estava envolvido por uma onda de calor que o abraçava e que o fazia querer sorrir.

No dia seguinte chegou para gravar, mas estava furioso devido às olheiras que a noite mal dormida lhe trouxera.  Contracenou com Madalena e respirava fundo para conseguir se concentrar e no final das gravações saiu quase que correndo para não encontrar Madalena e assim se seguiu por alguns dias, ele sempre fugindo e ela sem entender.

No quinto dia de gravação Carlos estranhou a ausência de Madalena e foi informado que ela estava com um resfriado e quase perdera a voz. Rapidamente ele abandonou o local e foi até a casa onde ela morava, quando chegou tocou o interfone, já estava quase indo embora quando ela abriu a porta. Madalena o cumprimentou e ele esforçadamente soltou um “oi” e perguntou como ela estava. Convidou-o para entrar e ficaram ali um olhando para o outro, sem assunto e meio sem jeito até que Carlos achou melhor ir embora.

Algumas horas depois ele voltou cheio de guloseimas e dessa vez conseguiram conversar, ficaram horas conversando como se fossem velhos amigos. Quando iam se despedir Carlos foi surpreendido por Madalena que o beijou e pediu que ele ficasse.

Eles começaram uma linda história de amor, quase não se desgrudavam nunca. Estavam muito apaixonados, porém se amavam em segredo, escondendo até mesmo dos amigos mais íntimos, pois Carlos preferia assim.

Terminaram a minissérie e começaram dois trabalhos distintos e foi ai que as crises de ciúmes surgiram. Carlos demonstrava ser muito possessivo e até mesmo agressivo, pedindo insistentemente que ela abandonasse sua carreira de atriz. Mas ela não cedeu a seus pedidos e começaram a brigar frequentemente. Após alguns meses foram convidados para gravar um filme juntos. E pareciam estar bem, as brigas diminuíram, mas o ciúme continuou. Madalena era muito simpática e tinha muitos amigos, enquanto Carlos se isolava e ficava cada dia mais amargurado.

Seu ciúme se tornou tão doentio que ele ficava o tempo todo telefonando para saber onde ela estava. Ficava fantasiando ela traindo-o e isso o deixava louco. No dia seguinte a gravação seria num lindo lugar com uma visão deslumbrante. Muito verde num penhasco, juntamente com o céu azul, tornava o dia mágico. O personagem de Carlos flagrava a personagem de Madalena aos beijos com o seu inimigo. Ele atirou no seu inimigo e foi em direção a ela apertando o seu pescoço, conforme o roteiro. Mas Carlos já não conseguia separar o real da ficção e o seu ciúme doentio o deixou cegamente louco fazendo-o apertar fortemente o pescoço de Madalena até o seu corpo cair sem vida no chão. Quando percebeu o que fez caminhou até o penhasco e com as lágrimas rolando em seu rosto saltou em silêncio.

 

Autor
Juliana Ribeiro Borges – Três Barras/SC – Brasil

 

O poder da fama
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