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O terremoto que quase me matou

Poucos, felizmente sabem o que é um terremoto, para nós aqui no Chile, são muito comuns, talvez tão comuns como a chuva. Na realidade não seriam bem os terremotos que são muito comuns no Chile, seriam mais os tremores, pois calcula-se que a cada ano o país tenha 3,5 mil tremores, ou seja quase 10 por dia e que os países do Oceano Pacifico são os responsáveis por 80% dos tremores do planeta. Isso significa que nós, os chilenos, somos muito acostumados aos tremores e, por isso, já sabemos como proceder caso um tremor, mais forte (um terremoto) venha a ocorrer.

Mas a história que vou relatar ocorre em 22 de maio de 1960 e teve um terremoto cujo epicentro foi Valdivia, uma cidade ao sul do país, que hoje tem pouco mais de 150 mil habitantes. Foi tão forte, que é considerado como o terremoto mais forte já registrado na história da humanidade, atingindo 9,5 graus de magnitude na escala Richter, matando pouco mais de 5.700 pessoas no Chile e seus tsunamis (na época chamada de maremotos) mataram a mais 61 pessoas afogadas no Hawaii, nos Estados Unidos a mais de 8.000 quilômetros de distância.

Minha família, que morava em Cañitas, uma vila, a 215 quilômetros ao sul de Valdivia, sempre quis que eu estudasse engenharia e por isso fui estudar a essa cidade, para seguir essa profissão, que eu também sempre sonhei.

Nessa época, as comunicações eram lentas, caras e de difícil acesso e os transportes também, pois para ir de Valdivia a Cañitas eram necessárias pelo menos 10 horas. Tomava-se, primeiro, um ônibus até Puerto Montt, que demorava entre 6 e 7 horas e depois se esperava outras duas horas para tomar outro ônibus que chegava até Cañitas e esse último, demorava mais uma hora. Hoje esse trajeto se faz na metade do tempo.

Para poder estudar tive que ir a morar numa pensão de uma família muito boa que me permitia ter paz e tranquilidade nos estudos. Meu quarto era pequeno, mas privativo, tinha uma cama de solteiro, uma pequena mesa aos pés da minha cama, um pequeno armário e um banheiro, também. Na pensão viviam outros 6 estudantes, todos jovens.

Depois do almoço fui deitar por alguns minutos, pois no dia seguinte teria uma prova muito importante. Já dormia tranquilamente, quando de repente escuto um forte barulho aos meus pés, me levanto rapidamente, tento ficar em pé, mas caio ao chão.O terremoto era tão forte e movia o chão de tal maneira que era impossível permanecer em pé. Mas nesse momento eu ainda não havia entendido que aquilo era um terremoto, e foi quando olho para a minha cama e percebo que uma enorme chaminé de cimento rompeu a parede, o teto e caiu aos pés de minha cama, a uns 10 cm de minhas pernas. Se a chaminé tivesse caído em minhas pernas, provavelmente eu não estaria, hoje, contando esta história.

Como somos todos orientados, fui direto para embaixo do marco da porta, pois se a casa chega a ruir, ali eu estaria protegido. Ali permaneço por pelo menos uns 20 minutos, juntamente com os rapazes dos outros quartos que fazem o mesmo, cada um no marco da porta de seu quarto. E ali permanecemos conversando e acalmando-nos até que os tremores diminuíssem. Me lembro que a casa era em frente ao hospital de 4 andares e foi terrível verificar que as pessoas internadas, durante e depois do terremoto, jogavam os colchões pelas janelas e depois se jogavam, pela janela nos colchões… alguns erravam a mira…

Quando os tremores terminam, ou melhor diminuem, o primeiro que faço é tentar falar por telefone com meus pais, que não atendem pois as comunicações, assim como a energia elétrica e o gás já tinham sido interrompidos. Eu, preocupado com eles e vendo toda a calamidade que se produziu em Valdivia decido ir a vê-los, no dia seguinte. Acordo muito cedo no dia seguinte e vou caminhando (pois naquele momento já não havia mais serviço de taxi) até a rodoviária que se localizava a uns 2 quilômetros da pensão. Quando chego na rodoviária, sou informado que os ônibus não estão circulando pois a estrada se havia partido ao meio em determinado trecho. Não me resta outra opção senão ir a pé até minha cidade e ver a minha família… demorei quatro dias caminhando e dormindo onde podia, com pouco dinheiro.

Com muita sorte, quando cheguei em casa, eles estavam todos bem, mas eu muito cansado e com os pés cheios de bolhas de tanto caminhar.

Uma experiência inesquecível, traumática, mas única…

 

Autor
Meu nome é Jorge Paredes moro em Puerto Monttna Região dos Lagos, no Chile, sou Engenheiro em Produção Madereira aposentado, pela Universidade do BioBio de Concepción de onde me formei em 1967.

 

O terremoto que quase me matou
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