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Eva – a menina que tinha tudo

Eva nasceu em berço de ouro e no dia de seu nascimento, conta-se que seu pai ofereceu uma festa de gala cuja atração principal foi um cantor famoso, que tinha um cachê que custava 55 anos de trabalho de seus empregados que serviram sorridentemente a todos os 250 convidados. Foi uma festa grandiosa, com fogos de artificio, gastronomia, muita bebida e boa música.

Como filha única, Eva foi criada com tudo o que o dinheiro podia comprar e sua vida foi o retrato daquela festa que seu pai ofereceu quando de seu nascimento. Seu berço tinha enfeites de rubi, seus sapatinhos, pedras de diamante, suas roupas, tinha fios de ouro e seu banho era dado com pétalas de rosas colombianas  e leite de cabra para amaciar a sua pele. Eva tinha 4 babás, duas para o dia e duas para dormir com ela e ao completar 5 anos de idade, ganhou um pônei que a levava a passear pelos jardins da enorme mansão que seus pais tinham. Nenhuma objeção deveria ser-lhe feita, suas vontades (segundo ordens de sua mãe) deveriam ser todas realizadas e os criados deveriam correr a seus chamados, aquele criado que não corresse seria dispensado imediatamente.

E quando cresceu, não foi diferente. Eva chegava na escola de limusine, com chofer, tinha tudo o que as outras crianças desejavam, bonecas, hoverboards, videogames, spinners de dedo, roupas aos milhares, viajava uma vez por ano Paris, Londres, Nova Iorque,Orlando e lá conhecia a todos os parques decor, parques como a Disney, Epcot. Tinha um armário de 6 portas, completo, do chão ao teto de sapatos, mais da metade ela nunca chegou a usar. Tinha um outro armário cheio de bolsas, outro armário cheio de camisas, camisetas outro cheio de calças, shorts e bermudas. O armário de camisetas tinha uma porta inteira só de camisetas azuis, outra porta de camisetas rosas, outra de roxas… Aos sábados seu principal passatempo era ir ao shopping, com seu chofer, fazer compras, de onde saia com pelo menos cinco bolsas de compras.

No ensino médio, Eva rompia os corações dos rapazes, pois além de ser linda, desfilava seu corpo escultural pelos corredores da escola dando atenção somente aos “populares”, como ela o era. Escolhia suas amigas, assim como respeitava somente os professores que eram indiferentes a seus encantos. Nas festas, não tinha hora para voltar para casa, mas o sonho dos rapazes era que Eva lhes desse ‘bola” para poder andar de limusine e, quem sabe, conquistar a menina mais desejada da escola e, talvez, da cidade.

O tempo foi passando, Eva continuava tendo de tudo o que o dinheiro podia comprar. Pretendentes ela tinha às dezenas, eram raras as pessoas que não lhe bajulavam pois até mesmo seus professores se encantavam com o poder de seu dinheiro e de seu poder de conquistar as pessoas através de seus presentes e das posses que fazia questão de ostentar. Para ela todas as pessoas eram descartáveis.

Quando chegou a época de faculdade, Eva teve que ir para a cidade grande e lá se encontrou com iguais, pessoas que tinham um cartão de crédito sem limite e que sabiam contar de todos os seus bens e de suas viagens, pessoas que sabiam esnobar aqueles que não tinham a mesma capacidade financeira. Eva sentiu a diferença, por perder as atenções a que estava acostumada e começou a se relacionar com rapazes cada vez mais diferentes, para fugir da sua realidade, era uma forma de continuar comprando tudo e a todos. Cada fim de semana era uma aventura diferente, com um diferente…

Porém, chegou o momento, como a todos nos chega, em que Eva começou a questionar-se se todos aqueles bens a deixavam feliz, se todos aquelas pessoas realmente gostavam dela, se aqueles rapazes verdadeiramente queriam uma relação saudável com ela… se suas conquistas na vida eram verdadeiras, ou se eram todas uma farsa, queria saber se sua vida era real.

Foram momentos difíceis, assim como o é para qualquer um que descobre sua individualidade. A autocritica começou a corroê-la, a implodi-la a questionar as suas mais profundas convicções e suas mais íntimas e encravadas crenças.

Foi quando descobriu que tinha AIDS. Morreu poucos meses depois, triste, deprimida ao descobrir que tinha tudo o que o dinheiro podia comprar, que sua promiscuidade era uma forma de obter tudo o que queria, porém aquilo que o dinheiro não podia era o que lhe fazia falta então, “bens” como a saúde, a amizade, o respeito, o amor e a auto-estima.

Já no fim de sua vida, descobriu que o único que tinha era dinheiro…

Alvaro Concha – Porto União/SC – Brasil

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