Um homem já cansado do peso dos dias, do peso dos seus sonhos, resolveu livrar-se de tudo que lhe fazia peso. Juntou todos os seus sonhos, suas amarguras, frustrações, anseios e etc, colocou numa mochila e foi até o porto; chegando ao porto o homem perguntou para o guarda:
– Qual destes navios vai para mais longe?
– Aquele grandão alí. Ele vai para o outro lado do mundo.
– Ok, obrigado! O homem então procurou o capitão do navio e lhe disse:
– Capitão, me ajuda! Sei que vais para o outro lado do mundo; essa mochila tem todos os meus pesos, inclusive uns sonhos bobos, meus documentos… Joga no mar, não quero mais saber quem sou. Quero escrever uma nova história. Deixar as dores da vida, que tive até aqui. Leve capitão, jogue ao mar no ponto que for mais distante da terra firme
– Ok! Vou jogar no Pacífico. O navio partiu, e o homem seguiu para sua nova vida. Sem os pesos da vida antiga, com dias livres, sem dores, sem o gostinho das tristezas, sem sonhos bobos.
Os dias passavam e aquele homem definhava-se. Sem motivos para preocupação, mas sem o doce dos sonhos, sem as marcas da vida, sem identidade. Meses depois, sentado a beira do cais, num outro cais, muito distante daquele onde viu seus sonhos, amarguras, frustrações e anseios pela última vez, ouviu uma voz que dizia
– “Ei moço sem sonhos. venha pegar sua mochila. Eu tentei jogá-la ao mar, mas o mar recusou-se a viver seus sonhos, sua vida.”
Dizem que o capitão jogou a mochila no pacífico, na China. Na volta uma onda gigante jogou a mochila de volta para dentro do navio. Dizem também, que o homem da mochila vive a sonhar os sonhos que o mar recusou.
Meu nome é Marcel Conceição Mota, tenho 41 anos, sou natural de Pau Brasil, na Bahia, mas moro em Santos, litoral de São Paulo e sou Professor.