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A morte de Isidoro

A localidade era Santana, na linha Paredão, município de Cruz Machado, Santa Catarina, o ano, mais ou menos 1996. O local tinha esse nome em virtude de um paredão natural de pedra de uns 300 metros, que parecia cortado à mão, mas era natural.

Final de tarde, não tínhamos vendido nada, desanimados eu e Emerson, hora de voltar para a casa e já na volta, o carro resolve “pifar”. Encostamos o carro, sem recursos para arrumar o carro, pensamos em dormir ali mesmo, mas ao descermos verificamos que a uns 500 metros de distância havia uma luzinha. Pegamos nossas valises (pastas de trabalho) pretas e nos dirigimos para a luzinha. Quando chegamos a casa, uma casinha minúscula, estava cheia de gente:

– Vocês são da funerária? Nos perguntam imediatamente. Nós com fome, cansados, questionamos:

– Porque?

– Porque o caixão já chegou, o defunto está ali e só falta prepará-lo.

Olhamos para dentro, vimos que as pessoas eram todos polacos e sabendo que velório de polaco é uma festa, pensei:

– Velório de polaco tem de tudo, tem bolo, tem pão, tem café, tem cerveja, queijo, pinga, chimarrão, salame, etc. Não pensei duas vezes:

– Sim, somos da funerária, cadê o defunto?

– O Isidoro está ali.

– Então vamos ver o Isidoro! Quando chegamos no defunto, os dois morrendo de fome, vimos como o Isidoro estava feio, coitadinho, estava tão magro, mas tão magro que a camisa dele era de listras e só tinha duas listras… Começamos a lavar o morto, tarefa difícil pois a casa não tinha energia elétrica, só dois cômodos, era iluminada com lampião e além disso, o defunto estava duro já. Os convidados numa peça e o defunto na outra, separadas por um pano, que servia de porta, mas um pano feio, feio, feio…

 

 

Um detalhe interessante é que percebemos que os polacos tinham medo de defunto, não chegavam perto dele, mas assim mesmo seguimos nossa tarefa meio correndo, pois a fome estava matando. O Emerson pega uma bacia de água e começamos a lavar o morto e de repente o Isidoro escapa de minhas mãos e cai do outro lado do pano, era só polaco correndo, desesperados… Não ficou um polaco na sala, uma gritaria desesperada.

Trouxemos ele de volta, terminamos de lava-lo, os convidados voltaram, se sentaram novamente, e começamos a pôr o terno no Isidoro. Colocamos uma gravata borboleta nele, mas não ficou bom e tivemos que tirar, pois ele estava tão magro, mas tão magro, que ficou parecendo um crucifixo.

Colocamos o caixão na sala e a festa começa, um contava piada, o outro chorava, uns tomando chimarrão, outros rezando e nós comendo e bebendo. De repente chega um bêbado, que estava muito bêbado e pergunta onde estava o Isidoro, apontei para o caixão. Quando o bêbado vê Isidoro, começa a chorar, mas chorou tanto, tão desesperadamente que se debruçou no caixão que cai com defunto e tudo. Só de raiva dou um soco na cabeça do bêbado, tão forte que ele desmaia na hora e de novo, a polacada sai correndo, gritando, e ficamos só eu e Emerson, o bêbado, o Isidoro e o caixão quebrado.

– Pegue esse bêbado e leve lá no meio do milharal e largue ele lá!

Arrumei o caixão, ajeitei o defunto, quando a polacada começa a voltar e junto com o Emerson. Puxei o terço e seguimos a cerimônia.

Lá por umas 4:00 da manhã, todos felizes, bebendo e contando piada escutamos um grito:

– Já parou de chover?

Olhamos para o caixão e vimos que o defunto se levantou… Pela terceira vez a polacada saiu correndo, desesperados, uma gritaria… Mas quando olho, com a luz fraca do lampião, vejo que era o bêbado no caixão. Nos confundimos e, com a luz fraca, o Emerson levou o seu Isidoro para o meio do milharal, e deixamos o bêbado no caixão.

Conta a lenda, que tem polaco correndo de medo, até hoje.

 

Autor
Meu nome é Mário Pedroso, sou corretor de imóveis, moro no interior de Santa Catarina, na cidade de Porto União, Brasil.

 

A morte de Isidoro
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