Sempre somos questionados sobre esse tão importante detalhe de nossa vida e numa noite de festa, quando questionado sobre o tema, contei a seguinte história que foi fluindo de minha imaginação de modo que pareceu a mais pura verdade, para meus convidados, entre eles meu filho mais velho.
Num acampamento com um amigo que se deleita na natureza, estávamos observando uma moça que dançava com muita felicidade em meio a um campo de flores silvestres, exibindo seu já surrado vestido rodado. Como éramos estranhos naquelas terras, ficamos escondidos e deitados de barriga assistindo a cena que não deixava de ser surreal, pois a feliz moça dançava e cantava de braços abertos e a toda voz. Foi quando meu amigo Patrício, um argentino que possuía um sotaque típico, perde a compostura e deixa escapar um espirro que imediatamente chamou a atenção da moça. Ela imediatamente vem a nosso encontro, perguntando quem estava ali.
Saímos de nosso “esconderijo” e nos mostramos. A moça, toda envergonhada, nos pergunta o que estávamos fazendo ali e com rapidez lhe explicamos que estávamos buscando água, quando de repente nos deparamos com o seu “espetáculo”. Ela nos pede desculpas e nos convida a ir buscar água no poço de sua casa, que ficava a menos de 500 metros, no meio da floresta que limitava o campo de flores silvestres. Ela nos pede que a sigamos e assim fizemos.
Quando chegamos à casa, de madeira, no meio da floresta, quando de repente vemos um menino carregando dois baldes de água, indo em direção a casa. Foi quando ele passa por uma menina, que devia ter uns 13 anos, sentada no chão batido, comendo insetos que conseguia colher no chão.
De repente aparece um senhor de chapéu, cigarro de palha no canto da boca, bangela e uma espingarda apontando em nossa direção.
– Quem são esses dois indivíduos, que vem com você, Jomara? Grita o senhor.
– São dois moços que me pediram um pouco de água do poço, pai. Pode ficar tranquilo eles não vão nos fazer mal.
Foi quando aparecem, atrás mais duas pessoas, uma senhora (a mãe de Jomara), com cabelo preso, um lenço na cabeça, avental amarelado e pano de louça na mão e uma outra moça, um pouquinho mais nova. Todos, cinco pessoas, mais Patrício e eu, pararam o que estavam fazendo e foram observar a cena que ocorria ali.
– Eles te fizeram mal, né, filha? Afirma o velho apontando-nos aquela escopeta, que avaliei ser da década de 1920.
– Não, pai. Eles não me fizeram nada, somente me pediram água.
– Fizeram sim, Marco, castiga eles… Gritou a velha, também bangela, que calculei ser a mãe de Jomara.
– Não importa, um deles terá que se casar com você. Eles te molestaram sim, eu conheço as intenções de um homi só pelo seu olhar.
– No, yo no fiz nada, yo acho su filha muito fea – grita Patricio, querendo se ver livre da ameaça transformada em proposta de casamento.
– Eu não falei com você, falei com o outro, aquele com cara de tarado!! Apesar de meu único sentimento ser de pânico total e, provavelmente essa era a minha cara, a única coisa que saiu de minha boca, já com as mãos levantadas, foi:
– Mas nós não fizemos nada de errado!!!
– Fizeram, sim e você vai ter que se casar com ela. Ela é inocente e você é um sem vergonha da cidade que vem pro mato pra molestar as “menina”! Vai se casar sim, grita o velho.
Aliviado, Patrício me olha e diz:
– Si, parece que você vai ter que se casar! Aceite senón nós podemos morrer aqui e ninguém vá saber…
Após pensar por um minuto que pareciam duas horas, analisar a noiva que apesar das sardas, dos piolhos e dos dentes podres, era graciosa e mostrava potencial de beleza, após um “banho de lojas” e um investimento em manicure, pedicure, depilação, cabelereiro, algumas obturações em dentes podres e aulas de etiqueta…
Foi assim, que tive que casar e, após 20 anos de casado, vejo que aquele fato, era um caminho de meu destino, pois o nascimento de meus 3 filhos e minha felicidade dele dependia.
Importante ressaltar que somente após eu haver afirmado o “sim” foi que meu sogro tirou a escopeta de minha cara.
Alvaro Concha – Porto União/SC – Brasil