Tardinha gostosa no Magarça, Rio de Janeiro. Parte da família reunida, juntando quatro gerações, da bisa Maria José (86 anos) ao mais novo, Chico (um aninho e pouco, quase dois).
Lanchinho da tarde tomado, papos animados naquela mesa da sala que já presenciara muitas risadas e gargalhadas. Coisa de família unida. Momentos gostosos de se lembrar…O assunto da época eram as galinhas, patos e perus do Dudu.
Dudu foi criado na cidade grande, mas tinha espírito de cabra da roça… Adorava imitar gente de verdade do interior com o jeito de falar de cada personagem… Novos e velhos, não tinha limite a criatividade do garoto…Era realmente escutar a pessoa falando pela boca do Dudu.
Nessa onda de roceiro, Dudu havia resolvido criar os bichos e lá estavam, no quintal da casa próxima, a criação. Alguém deu a ideia:
– Vamos levar o Chico pra ver os bichos do Dudu.
Meu netinho Chico tinha um ano e alguns meses, aprendera a andar há pouco tempo e era o xodó da turma. Entrando no grande quintal, escutamos o barulho característico das galinhas dangola[i]:
– Tô fraco, tô fraco.
O peru gigante que era o rei do pedaço fazia “Glu Glu Glu” e abria as penas da cauda num leque grande.. E que barulho faziam suas penas nesta abertura!…O galo Alfa devia ficar com ciúmes, mas a coisa ia bem, os dois se respeitavam e, afinal de contas, o peru tinha sua linda namorada, a perua.
Dudu nos mostrava como os bichos se organizavam e conviviam em paz, vimos os ovos fresquinhos e se espalhava no ar aquele cheirinho de galinha, animais, plantas e terra…
Chico se soltou… Caminhar em terreno de verdade é coisa pra gente grande, mas sua mamãe Juli deixou o moleque se aventurar… É preciso aprender, mesmo que para isso haja uma quedinha ou outra…
Cada um de nós ficava sempre perto de Chico pra evitar que ele caísse de verdade, mas o garoto nem percebia nossa presença. E lá vai ele !!!
Em certo momento, cheio de coragem, começa a perseguir os bichos.. Caímos na gargalhada, diante daquele ataque do pimpolho.. Bisa Maria chora de tanto rir.
Os frangos fogem desesperados, as galinhas D’angola confirmam sua fraqueza com mais intensidade e os patos nem se arriscam a enfrentar o Super Chico.
Só um deles fica na frente: exatamente o peru gigante, rei do pedaço. Chico dá uma paradinha, olha pra mamãe atrás dele, levanta o short caído, olha pro peru de novo, enche os pulmõezinhos de ar e… ataca !!!
O Peru, com o dobro do peso do Chico pensa, pensa e decide:
– Já deu, tô fora. E sai correndo, fugindo do Chico.
Aí mesmo é que o menino cresce e continua a perseguição, capengando, escorregando aqui e ali mas vai em frente. Engraçado ver aquela figura minúscula já afirmando seu poder perante os bichos.
Em certo momento, já com o peru empoleirado, Chico finalmente cai e é amparado pelo avô, que esperou o último momento pra agarrar o moleque, antes do chão encontrá-lo. Os bichos agradeceram e o Peru respirou aliviado.
Chico,orgulhoso, olhou pra todos e sorriu…
– Quero colo.
Meu nome é Alvaro Kadal, sou carioca e moro no Rio de Janeiro.
[i] Também chamadas de angola, galinha-da-índia, galinha-da-numídia, galinha-da-guiné, angolinha, angolista, galinhola, dependendo da região do Brasil.
* Fotos tiradas da internet.