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Histórias de Levado, o Travesso

No ano de 1987, na cidade de Pedra Chata, interior de SP, no belo e saudoso bairro Olavo Ferreti, todas as casas do lado direito da rua 31 de Março faziam fundo com a fazenda do seu Miro. A cidade terminava ali.

Era uma rua peculiar… tinha uns 700 m de comprimento. Começava com a Escola do Comércio, depois vinha a casa de três meninas graciosas filhas de um dentista amigo do meu pai. Na frente moravam dois irmãos gêmeos idênticos, que tinham 4 anos de idade de diferença entre si! Mais ao lado tinha a casa dos Shell… Allwars, Maurítzzio e Allegra Shell, três irmãos prá lá de divertidos e simpáticos, oriundos de Concepciòn… Um pouco mais à frente na esquina, as irmãs Beltratti. Ali, no cruzamento com a rua Chico Xavier, duas casas pra cima, morava a Lucy Galisteu, que mais tarde namorou o Mick Jagger e se tornou apresentadora do programa Superpop na TV. Ela era irmã do Dan, que era amigo do meu irmão…um menino forte e belo, que nos deixou cedo…causando-me tristeza e indignação… Na outra esquina duas meninas filhas do Aristóteles, professor de matemática de todas as crianças da rua. Na sequência tinha os Old Village… 4 irmãos, sendo dois meninos – Charles e Fall e as meninas Anna Fabs e a caçula Carolina de Mônaco… esta última veio a se tornar uma das mais belas mulheres com mais de 40 que eu conheço!

Eu e meus dois irmãos, Lemão e Morena, morávamos de frente a eles.

Nas casas vizinhas moravam o Ferdinando, a Josi Leme, o Paulinho extra light, a Léts, o Dalma e o Paulinho extra nylon, os 2 últimos, netos da Raulina, que outrora foi prefeita da cidade. Ao todo somávamos quase 30 crianças entre 10 e 15 anos.

Naquela época chegávamos da escola, almoçávamos, fazíamos a tarefa em 15 minutos e depois íamos para rua praticar o que chama-se “ÓCIO CRIATIVO”!

Por vezes, desciam outras crianças das ruas de cima do bairro para jogarmos futebol ou taco naquele asfalto macio… Desciam o Rocélouis, o Edward de la Street, irmão de um tocador de banjo de renome internacional, a Sil Bridges, a Suelen, que na época namorou um Menudo. A Massafera e seu irmão Red Head vez ou outra apareciam…Vinha o Cousin, o Aladin, o Carlo Tecco, o Ivan Lendl e outros… Também vinham outros de bairros próximos como o Sêlo, o Dry I , Dry II, e o Yolk Júnior. Anthony Walls apareceu umas 2 ou 3 vezes para dançar break.

Eram todas crianças “do bem”, exceto uma, dentre todos, o Levado, que não era por assim dizer, “do mal”… mas era diferente!!! Repetiu de ano na escola várias vezes… Acho que todas as crianças ali da rua estudaram na classe dele em algum momento!

O seu Miro, um bom homem, era produtor de leite e fazia vista grossa para que usássemos sua fazenda como extensão do nosso quintal. Suas terras pegavam todo o comprimento da rua e saindo do fundo das casas, faziam um declive de uns 200m, que terminavam num pequeno lago, mas profundo!

Na maior parte do ano era pasto, mas também plantava-se milho e cana. Vez ou outra, precisávamos correr dos cães que faziam a segurança da fazenda… Não raras vezes subíamos no muro dos fundos da primeira casa que aparecia para fugirmos deles…Não havia problema algum… conhecíamos todos os vizinhos…

Certa feita, eu e o LEVADO caminhávamos pelo pasto, praticando com afinco o “ÓCIO CRIATIVO”, quando avistamos um trator meio que escondido no milharal, com a chaveta na ignição. Após minuciosa análise de como funcionava, ligamos o bicho e partimos para nossa aventura… eu dirigindo e Levado sentado no paralamas daquele pneu enorme. Após alguns minutos, trocamos de status… Levado como motorista e eu de passageiro no paralamas!!!
Nessa altura, 2 cães já latiam bravamente ao nosso redor… De repente, Levado vira bruscamente para a esquerda, acelera e toma rumo sentido ao lago.

O olhar malicioso dele já me dizia o que ia acontecer… exitei por dois ou três segundos por causa dos cães, mas não tive dúvidas!!!! Saltei da máquina em movimento e rolei no pasto. Os cães, sem entender o que acontecia, pararam e ficaram a observar a cena do trator afundando na água do lago lentamente… Levado saltou, caindo sentado na água à beira do lago. Um dos cães rodeava ele, o outro veio atrás de mim!!! Não me lembro como fiz para escapar dele… Quando dei por conta estava escondido dentro de casa!!! Acho que fiquei sem sair de lá por uns três ou quatro dias… com medo da bronca por conta do prejuízo causado!!!

No outro dia de manhãzinha, subi no telhado da minha casa e consegui avistar lá no lago apenas o teto da cabine do trator que estava praticamente todo mergulhado na água.

Nessa hora achei que ia ser preso!!!

À tarde, ouvi barulho de outros tratores que talvez estivessem tentando resgatar o que Levado acreditou ser um barco com rodas e arado.

No dia seguinte, subi no telhado novamente e pude constatar o trator andando normalmente pelo pasto. Que alívio!!!

Nunca mais falei com o Levado!!!

Autor
Meu nome é Rogério Casselli, tenho dois filhos e moro em Rio Claro, no interior de São Paulo, Brasil.

 

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