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O índio apaixonado pela Lua

Yupanqui era um índio jovem, vivia com sua tribo na floresta amazônica equatoriana e desde cedo, assim como a sua tribo sempre adorou os fenômenos naturais, os animais, assim como o Sol e a Lua.

No entanto, com o passar do tempo ele adquirira uma preferencia pela Lua, que segundo seu ver era o ser mais lindo que Deus poderia haver criado e toda a noite ele subia na árvore mais alta que ficava próxima de sua aldeia para admira-la.

Como sua tribo vivia ali há muito tempo e toda a cultura da tribo era já secular, não havia espaço para criticas ou duvidas acerca das crenças de todos e isso fazia com que Yupanqui desacreditasse um pouco sobre o que toda o seu povo entendia como verdade absoluta.Numa conversa com sua mãe ele lhe contou que estava apaixonado pela Lua e que toda noite ele ia namorá-la:

– Mãe, a senhora me autorizaria a casar com a Lua? Eu acho que ela também gosta de mim, pois uma vez eu a vi sorrindo para mim!

– Meu filho se ela um dia te sorriu foi por pena de você, pois a Lua é um deus, e um deus só se casa com outro deus, e não com um indiozinho como você… Além disso, o Pajé nunca vai te casar com a Lua, ele te expulsaria da tribo, pois você sabe que se um índio quiser se casar com um deus, o Sol vai se enfurecer e é muito capaz dele nunca mais aparecer para a gente. Já pensou a gente viver para sempre na escuridão? Porque você não repara nas meninas da aldeia, como a Noami? E que tal a Iara? Elas vivem perguntando de você para mim…

– Não, mãe eu gosto mesmo é da Lua…

E Yupanqui saiu dali triste pela forma que sua mãe havia lhe explicado o assunto. E foi assim que resolveu conversar a noite com a Lua e perguntar-lhe se ele tinha alguma chance. A noite ele subiu na linda mangueira que sempre subia e esperou que ela aparecesse e tão pronto ela apareceu ele percebeu que ela estava ainda mais linda, totalmente cheia, apresentando um tom amarelado e desta vez enorme.

– Até parece que ela sabia que eu queria conversar com ela e se embelezou para me ver – ele pensou e foi logo disparando.

– Você sabe que eu sou apaixonado por você, que eu faria de tudo para me casar com você, mas gostaria de saber se você me aceitaria como seu noivo. Você aceita?

Não escutando resposta alguma, ele perguntou mais uma vez e esticou o ouvido pra ouvir a resposta da amada. Nenhuma resposta, mas quando ele olha de novo para ela, como que cobrando uma resposta ele vê que uma grande nuvem havia aparecido e atrapalhado a paquera…

– Ela ficou com vergonha de responder na frente da nuvem… Mas ela quer se casar comigo, sim. Amanhã mesmo vou atrás dela e subir na montanha em que ela mora. No dia seguinte arrumou suas coisas e começou a caminhada até a montanha onde a Lua mora e de onde ele sempre a via aparecer de noite, uma montanha que ficava a uns 2 dias de caminhada.

Após haver caminhado por umas 6 horas, ele se encontrou com um lobo e lhe perguntou se conhecia o caminho.

– O caminho é este mesmo, e você está certo de querer vê-la mesmo, pois nós lobos adoramos uivar e caçar quando ela está cheia. Quando você acha-la venha me contar onde ela está e me avise, pois lá deve ser um lugar muito bom, com muitos lobos.

Yupanqui se surpreendeu como o lobo aceitou seu encontro com a Lua e como ele ficou interessado em que aquele encontro desse certo, diferentemente de sua mãe e certamente de toda a sua tribo.Parou para tomar água e descansar e acabou adormecendo a pouco tempo de onde havia se encontrado como lobo.

No dia seguinte iniciou cedo a sua jornada e seguiu caminhando e iniciou a subida da montanha, mas subestimou a subida e acabou anoitecendo enquanto ele subia e teve que dormir numa caverna. Ao deitar escutou passos que vinham em sua direção e qual não foi seu susto ao ver que uma luz vinha se aproximando juntamente com os passos. Ao pouco tempo ele tinha em sua frente uma mulher muito idosa, olhando-o nos olhos:

– O que você quer na minha caverna? Pergunta a idosa.

– Na-na-da. E e e eu só queria dormir aqui, pois estou numa caminhada… respondeu Yupanqui morrendo de medo. Estou indo para o topo da montanha, encontrar com a minha amada…

– E posso saber quem é sua amada?

– C-c-c-c-claro! É a Lua. E-e-e-e-e quem é a senhora?

– Hahahahahaha, sorriu a senhora. Eu sou Virga, a bruxa da floresta, nunca ouviu falar de mim? Venha vamos jantar.

Yupanqui a seguiu e ao chegarem a um local muito iluminado e bem enfeitado, Virga o convidou a se sentar num banco feito de toras de madeira. Ela lhe serviu uma deliciosa comida e lhe disse:

– Meu filho, você é o primeiro que me diz que tem a Lua como amada. E realmente ela é muito linda, você tem bom gosto! Mas ela é fria, você sabia que ela é muito fria?

– Não, não sabia. Yupanqui responde e se sente mais tranquilo ao perceber que Virga não era uma mulher má, mas sim uma bruxa do bem.

– Sim, ela é fria, porque todas as estrelas lhe deram parte de sua luz. A pouco tempo de caminhada daqui, você verá um lago e lá ela sempre está. Eu já entrei no lago para conversar com ela, mas a frieza dela chegou a me gelar e tive que sair dali correndo!

Yupanqui se assustou com o relato, dormiu e ao amanhecer saiu cedo seguindo a sua caminhada. Ao caminhar por duas horas encontrou com um senhor de chapéu e roupa estranha.

– Boa tarde! Disse o senhor. Meu nome é James, sou professor e estou estudando uma árvore desta região e você? Quem é você?

– Sou Yupanqui, filho de Lautaro e estou em minha caminhada para a casa de minha amada.

– Ah, que bom Yupanqui e posso saber quem é sua amada

– Claro, minha amada é a Lua, ela mora a umas três horas de caminhada daqui e espero chegar hoje na casa dela.

– Você quer namorar com a Lua? Pergunta o professor. Mas isso é impossível…

– Porque impossível? O senhor também acredita que ela é um deus?

– Porque ela não mora aqui, ela mora muito distante daqui, um caminho que se você começasse hoje, demoraria pelo menos 42 anos caminhando. Meu filho, ela mora a exatos 384.400 quilômetros daqui, mas ela é um astro tão grande que dá a impressão que ela está atrás da montanha, mas é só impressão. Além disso, você não pode se casar com ela pois ela é um astro, um corpo muito grande que muitos anos atrás se chocou com o nosso planeta e acabou parando ali onde está, ou seja, a Lua não é uma pessoa e nem um deus como sua tribo deve acreditar. Ela é um astro (um satélite) assim como algumas estrelas, isso que lhe passo chama-se ciência, que há muito vem estudando a Lua.

– Mas a bruxa disse que ela é fria porque as estrelas lhe deram parte de sua luz… E o lobo me disse que devem haver muitos lobos lá onde ela mora, por isso eu imagino que deve ser um lugar muito lindo, muito vivo.

– Também não é verdade, a Lua é iluminada pelo sol. Onde ela mora sim, é um lugar frio e vazio, não há lobos, nem árvores, nem florestas, nem pessoas, mas sim, ela é muito fria. Eu sei dessa história da bruxa que entrou num lago pensando que conseguiria tocar a Lua, mas o que ela via, na verdade não era a Lua, mas um reflexo dela na superfície da água… por isso ela passou frio, porque entrar na água de noite, causaria frio em qualquer pessoa, mesmo…

Yupanqui agradeceu ao professor pelas explicações e desistiu de sua caminhada, mas saiu feliz porque recebeu muitas informações sobre a sua amada Lua e porque a conheceu ainda mais. Porém ele também ficou feliz porque entendeu que o conhecimento traz a verdade e que para conhecer realmente a realidade é importante ouvir outras pessoas.

 

Autor
Meu nome é Alvaro Concha, sou consultor de empresas, tenho 4 filhos e moro em Porto União, uma cidadezinha do interior do Brasil, no estado de Santa Catarina.

 

O índio apaixonado pela Lua
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