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Quando a inteligência prevalece

No inicio de minha carreira trabalhava como professor e as felicidades que um professor tem com (alguns de) seus alunos e com a sua profissão são poucas vezes comparadas com as felicidades de outras profissões. Obviamente, que nem sempre há somente felicidades, mas no geral a vida de um professor sempre é mais bela e mais gratificante que a de outros profissionais.

Quando tinha meus 20 anos, pouca experiência e muita vontade de mudar o mundo, trabalhei ensinando inglês e espanhol a crianças e idosos em escolas particulares e numa de minhas turmas havia um aluno chamado Paulo que era bastante inteligente e suas observações normalmente eram engraçadas, justamente por sua inteligência ser acima da média, apesar de sua idade, que na época era de 7 anos.

Era uma turma de crianças, uns 6 alunos provavelmente e tínhamos dois encontros semanais de uma hora e meia cada. Nesse tempo eu buscava sempre alternar momentos de trabalho com gramática, leitura, fala, musica e diversão, também. Porém o problema é que, sempre Paulo fazia uma gracinha e desconcentrava toda a turma e depois para ter novamente a atenção da turma eu levava pelo menos uns 5 minutos e se isso acontecesse 4 vezes na aula, seriam 20 minutos perdidos. Apesar de minha irritação com a situação, sempre tentei levar na esportiva e não demonstrar qualquer insatisfação. O problema é que essa turma estava se desconcentrando demais e estávamos perdendo muito tempo com brincadeiras e gracinhas e o conteúdo estava demasiadamente atrasado, normalmente culpa do Paulo.

 

Quando a inteligência prevalece

Preocupado com a situação, contei a história para um colega que me ouviu muito pacientemente e me deu a receita:

– Na próxima aula, chegue com cara séria, evite brincar e seja firme para conseguir dominar a turma. Procure não sorrir, muito menos mostrar os dentes. Quando eles te perguntem o porquê de sua seriedade responda que está com problemas em casa, que não conseguiu dormir a noite e que, por favor, se comportem na aula, pois está sem paciência. Mas não se esqueça, não ria, de modo algum! Se sorrir perderá o domínio da turma.

Fui para casa e as palavras de meu colega reverberavam em minha mente. Procurei me concentrar e, até mesmo, treinar minhas atitudes para o dia seguinte e reforcei diversas vezes em minha mente a frase:

– Não ria, de modo algum! Não ria, de modo algum!Não ria, de modo algum!

No dia da aula, cheguei e segui todos os passos e disse exatamente o que meu colega me indicou.

Vi de canto de olho, que Paulo entendeu o recado, mas ao mesmo tempo ficou pensativo. Imaginei que ele estivesse intrigado com o tipo de problema que me seguia, foi quando levantou a mão pedindo para falar:

– Professor, posso perguntar?

– Claro Paulo, pergunte.

– Que tipo de problemas o senhor está tendo em casa? Problema de gases?

A turma entrou em êxtase humorístico e eu não pude conter o riso. Foi quando aquela aula acabou…

 

Alvaro Concha – Porto União/SC – Brasil.

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