PeopleBook

Sereno, o cão fiel

O ano era 1974, e numa certa feita, foram para Curitiba/PR o seu Rolf com seu pai, após trabalharem lá, já na hora de voltar, passavam por uma rua e numa esquina havia uma padaria e lá viram um cachorro perdigueiro, em posição de “amarrar uma perdiz”[1]. Ambos intrigados, pararam o carro, desceram e viram que o cachorro realmente estava “amarrando uma perdiz”, pois estava olhando fixamente para um adesivo de propaganda de uma marca famosa de embutidos, que tinha uma perdiz na foto…

Foram conversar com o dono da padaria e perguntaram de quem era o cachorro.

– Não sei, disse o dono da padaria, ele aparece aí de vez em quando e fica olhando pra propaganda, parado, durante horas…

– Então vamos fazer o seguinte, eu deixo 600,00 cruzeiros com você e quando o dono aparecer você paga o dono, se não aparecer fica para você.

O dono da padaria aceitou e levaram o cachorro para Porto União. Deram-lhe o nome de Sereno, pois era um cão muito tranquilo e muito manso, mas era um excelente caçador. Levavam ele e mais cinco, as vezes, seis outros cachorros para caçar e Sereno era sempre o primeiro a “amarrar”, várias vezes os vizinhos iam pedir o cachorro emprestado para caçar, e sempre era ele o primeiro a “amarrar a perdiz”, era um farejador fantástico. Até o prefeito e o deputado da região pediam o Sereno emprestado para caçar.

 

Um belo dia, perto do cemitério de Porto União/SC, havia uma casinha com um telhado muito inclinado, mas muito inclinado, mais que o normal e eu passava por ali com mais dois amigos e vimos o Sereno correr e tentar subir no topo do telhado e, como o telhado tinha uma inclinação muito forte, o cachorro não conseguia parar e descia arranhando, de costas, o telhado até cair no chão. Os vizinhos nos contaram que ele já estava fazendo isso há uns 10 dias seguidos, sempre no mesmo horário. Todos curiosos para saber o motivo, chamamos o Prof. Walmir para estudar o caso. O professor era um homem muito inteligente e estudou o caso por mais 30 dias quando ele nos contou que tinha descoberto o que estava ocorrendo.

– O fato é que a União Soviética lançou uma nave, a Sputnik, com uma cadela dentro, a Laika. O fato é que a Laika entrou no cio, e uma vez por dia, quando a nave passa por cima de Porto União, o Sereno sentia o cheiro da Laika e queria pegá-la para “namorar” – explicou o professor. Esse Sereno tem um faro impressionante, concluiu o professor.

Conta a história que até a Nasa veio para a cidade para estudar o caso, além dos inúmeros jornais e reportagens de revistas do mundo inteiro, o fato é que Sereno ficou muito famoso.

Infelizmente o tempo passa e para Sereno, também. Alguns anos depois o cachorro já estava idoso e já não conseguia mais o mesmo desempenho de outrora. E numa certa feita, levaram Sereno e mais 5 outros cachorros para caçar. Passaram-se horas e não conseguiram caçar nenhuma perdiz, foi quando escutaram um relincho, vindo de uns 300 metros. Quando os caçadores, curiosos, chegaram ao local, viram um cavalo em posição de “amarrar perdiz”, os caçadores não acreditaram no que estavam vendo. Mataram a perdiz, a única do dia e cometeram um grave erro, elogiaram o cavalo na frente do Sereno.

– Isso é que é cavalo, não esses cachorros que nós temos…

Sereno ao ouvir o elogio ao cavalo se “encachorrou[2]” e fugiu para o meio do mato e sumiu. Nunca mais o acharam. Meses se passaram, e nenhuma notícia do Sereno, quando de repente chega um telegrama da fazenda onde estavam caçando dizendo o seguinte:

– Achamos Sereno, venham buscá-lo.

Quando seu Rolf chega ao local, o chacareiro os leva até o lado de uma cachoeira e ele não acreditou no que viu. Lá estava o Sereno, ou melhor, o esqueleto do Sereno em posição de “amarrar perdiz” apontando para o esqueleto de uma perdiz. O chacareiro comentou que tentou desmanchar o esqueleto do Sereno, mas ele não se desfez.

– É claro, disse o seu Rolf apontando uma arma para o esqueleto da perdiz.

Depois de atirar na perdiz, seu Rolf diz:

– Descanse em paz, Sereno, cachorro bom e fiel.

Nisso o esqueleto do cachorro se desmancha e cai no chão. O Seu Rolf chora até hoje de emoção, quando se lembra dessa cena…

[1] Amarrar a perdiz –  termo catarinense que designa a posição que um cão perdigueiro fica, parado, observando e indicando ao seu dono que ali há uma perdiz. A posição é de uma pata e o rabo levantados e olhar fixo, parado.

[2]Encachorrou – conta o autor, pois “emburrado” é para os burros, os cachorros ficam “encachorrados”.

 

Autor
Meu nome é Mário Pedroso, sou corretor de imóveis, moro no interior de Santa Catarina, na cidade de Porto União, Brasil.

 

Sereno, o cão fiel
Avaliação: 4.4 estrelas
Total de votos: 85