No final de 2016, mesmo com a perturbação econômica no Brasil eu me encontrava com uma quantidade descente de dinheiro – oriundo de uma poupança que guardo quase todos os meses durante alguns anos, uma pequena parte do meu salário, e trinta dias de féria, uma situação perfeita para viajar. Como eu estudei inglês por alguns anos eu decidi visitar os Estados Unidos e talvez o seu vizinho do norte, Canadá.
Conseguir um visto de entrada provou-se uma tarefa hercúlea, mas felizmente, depois de meses de burocracia, eu consegui um visto de turista antes de Julho, o verão do hemisfério Norte.
Meus planos eram: passar 2 dias na Califórnia, para conhecer a Disneylândia. Quebrar a banca nos cassinos de Las Vegas e ir para o Parque Nacional de Zion. Então, viajar noroeste para Oregon, onde eu acamparia no Parque Nacional do Lago Crater e depois de um dia ou dois ir para Montana e visitar o Parque nacional de Yellowstone e conhecer a Caldeira de Yellowstone – o super vulcão subterrâneo. Finalmente se restasse tempo, dar uma volta no Canadá antes de retornar para Los Angeles onde eu passaria meus últimos dias no exterior antes de pegar meu avião de volta ao Brasil totalizando 20 dias de férias.
Eu parti como esperado no dia 30 de julho. Vou lhe poupar os detalhes da viagem de avião, pois ela foi simplesmente entediante.
Já nos aeroportos americanos, fiquei apavorado com a maneira fria e inumana como tratam seus passageiros, inspecionando cada pacote, cada objeto como se fossemos todos criminosos. Horas desapareceram antes que eu e as dezenas de pessoas na minha frente fossem inspecionadas. O pior de tudo foi ver algumas pessoas – uma das quais foi o único passageiro barbado e de pele morena – serem levadas para uma sala particular para inspeções aleatórias. Eu teria perdido meu voô de conexão, mas ele se atrasou.
A Disneylândia foi mais divertida do que eu havia previsto e a comida americana muito mais saborosa, mesmo sendo cheia de gordura e açúcar. Eu quase mudei meus planos para ficar um dia extra no parque, mas o meu desejo de acampar no Lago Crater foi mais forte.Aluguei um carro em Los Angeles e comecei minha viagem para Las Vegas. As cinco horas de viagem passaram rápido, talvez devido à beleza do deserto.
Minhas intenções quando entrei na cidade do pecado era de sair de lá com mais dinheiro do que eu tinha naquele ponto, isso, entretanto se provou praticamente impossível. O único jogo no qual eu obtive lucro foi no Black Jack.
A viagem de Las Vegas até o parque Nacional de Zion foi rápida, apenas duas horas. A beleza do parque me deixou deslumbrado, mas eu sabia que o Lago Crater seria ainda mais lindo. Montei minha barraca, mas decidi dormir de baixo do cobertor estrelado do céu noturno.
Já a viagem de Zion até o Lago Crater foi árdua. Vinte horas dirigindo, com uma pausa num motel durante a noite. Já o parque nacional do lago Crater era tão bonito quanto eu imaginei. Um círculo de terra cercando um corpo d’água cristalina com uma ilha solitária no seu centro. A natureza verdejante dando uma aura calma a tudo em sua vizinhança. Me diverti nadando no lago e conversando com os outros turistas. Maximilian Adler, um turista alemão, me contou sobra os supostos avistamentos locais do infame Pé Grande, embora fosse difícil entender o que ele dizia devido a seu sotaque alemão pesado.
Na hora de montar minha barraca, decidi que o faria no bosque do parque, cercado pela natureza. No meio da noite eu ouvi alguns barulhos estranhos vindos de algum lugar fundo entre o mar de trevas que se formou entre as árvores. Faminto e meio sonâmbulo abri meu cooler e peguei um sanduíche de salame, comi a metade dele e – graças a meu sono – simplesmente larguei a outra metade ao meu lado e voltei a dormir.
Novamente barulhos na floresta, mais perto de mim desta vez. No entanto meu corpo – exausto da viagem e das atividades no parque – se recusou a acordar. Eu não sei quanto tempo se passou entre meu lanche e o horror que me fez correr cegamente pelos escuros bosques do lago Crater, mas ao abrir meus olhos um tremor ecoou nas profundezas da minha alma. Eu ainda acordo assustado e suando algumas noites até o presente. Pois ao meu lado vasculhando meu cooler – que deixei aberto devido a minha exaustão – havia uma enorme massa negra, rasgando pedaços de comida com garras do tamanho dos meus dedos.
Minha barraca havia sido rasgada pela figura peluda, e foi por esse tal buraco pelo qual escapei correndo pela escuridão, implorando por ajuda no limite de minha voz. Quando fugi de minha barraca a enorme massa de pelos e garras também correu, talvez tenha vindo atrás de mim, talvez tenha simplesmente sumido em meio à noite. O medo cegou meus sentidos, e finalmente em minha corria desesperada eu bati minha cabeça em um galho de uma árvore.
Um guarda florestal me acordou na manhã seguinte e me levou para um hospital local. Quando eu lhe contei dos eventos da noite passada o guarda me disse que o culpado tinha sido um urso preto, atraído pelo cheiro da minha comida. Com o susto, cancelei minha viagem a Yellowstone e voltei a Los Angeles, e Brasil.
Meu nome é João Pedro Lemos Petter, sou estudante de Ciências da Computação e moro em Palmeiras das Missões, no estado do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil.