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A Lenda do Lago Titicaca

Reina era uma moça que tinha suas convicções muito bem formadas, sabia não ter opinião sobre todos os assuntos, mas aqueles que dominava, mantinha sua ideia e a defendia com rigor ponderado, como seu pai havia lhe ensinado. Como por exemplo, refutava a lenda de criação do império Inca, que contava que Manco Capac era filho do deus Sol e que tinha surgido e sido criado no Lago Titicaca.

Conta a lenda que após algum tempo Inti (o deus Sol) deu-lhe, à Manco Capac, as ordens de ir ensinar as pessoas do reino de Tahantinusuyu a viver com dignidade e felicidade e por isso ele e Mama Oclla (sua irmã e esposa e portanto, também filha do Sol) foram-se criar o império em Cuzco. Passados alguns séculos os incas construíram um templo, em homenagem ao deus Sol e à deusa Lua naquele lago e contam os Incas que, lá, nesse templo havia tanto ouro e tanta prata (trazida pelo povo Inca de todos os lados do império) que tinham que empilhar os objetos do lado de fora do templo e que se somados, poderia ser construído outro templo, somente usando o ouro e a prata que ali sobrava. Conta-se, também, que quando da chegada dos espanhóis, ávidos pelos metais, os Incas jogaram tudo no Lago para nunca mais ser descoberto.

– Bobagem, dizia, Reina, nada mais que lendas e superstições… Não me deixo influenciar por essas crendices populares sem fundamento.

As pessoas se olhavam quando ela fazia esse tipo de comentário, que vinha a contrariar aquilo que sempre haviam tomado como uma verdade absoluta e incontestável.

Após uma breve, mas feliz vida vivida ali, Puno, à beira do fabuloso Titicaca, percebeu que se ali ficasse seria uma campesina para sempre e, que provavelmente teria que se casar com um daqueles homens que ela julgava como “os brutos da vila”. Porém antes de tudo deveria pedir ao seu pai, um homem trabalhador e dono de uma pequena propriedade que se mantinha às custas do cultivo de café e, obviamente de sua mãe, uma mulher, também firme e fiel às convicções de seu marido.

Foi assim, que numa tarde, quando estavam realizando a colheita, totalmente manual do café da propriedade, todos de chapéu para se proteger do sol tórrido do lugar, e aproveitando que estavam a sós com seu pai, Reina lança a novidade:

– Desejo ir para a capital pai, me sinto muito deslocada aqui. Me relaciono muito pouco com as pessoas daqui a não ser a nossa família… quero conhecer mais gente, ter outras possibilidades de trabalho, quero conhecer o mar, enfim pai, quero mudar de vida.

Dias após a conversa com seu pai e uma inesperada autorização, Reina se prepara para ir à cidade. Já tinha os documentos, a mala arrumada e, decide ir ao lago banhar-se para se despedir daquele que tantas vezes tinha sido seu melhor amigo e seu passatempo favorito, mergulhar. Pensou em como o lago e aquela vila tinham sido a sua vida, quantos momentos tinha ali passado e quão feliz havia sido desde a infância, quando decide dar seu último mergulho para então dirigir-se à nova vida.

Nunca mais retornou do mergulho e seu corpo nunca foi encontrado. Algumas pessoas da vila opinam que Reina foi embora para a capital sem levar as roupas, para desfazer-se de todo o vínculo com o passado, já outros dizem que ao mergulhar Manco Capac tomou-a pela mão e a levou a conhecer o mundo do fundo do lago e mostrar-lhe os tesouros que os Incas haviam ali jogado, para que ela verificasse que as lendas eram verdadeiras e decidisse ficar na vila. Mas uma minoria acredita que, sim foi Manco Capac quem a atraiu para o lago tomou-a pelo braço e a levou para o fundo do lago e ali a afogou para que uma filha do lago não fosse embora jamais dali e assim nasceu a lenda do Lago Titicaca que diz que quem ali nasce, ali deve morrer.

 

Autor
Meu nome é Alvaro Concha, tenho 4 filhos, moro em Porto União, no estado de Santa Catarina, no sul do Brasil.

 

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